Ampulheta

Esther Ribeiro Gomes

Vou contar para vocês uma história inglesa que li nos tempos da juventude.

Havia uma empregada que trabalhava há muitos anos para a mesma família. Era muito recatada, não namorava e aos quarenta anos ainda não havia se casado.

Um dia, para surpresa geral, comunicou aos patrões que encontrara um bom moço, iria se casar e mudar para o interior da Inglaterra.

A família ficou muito apreensiva, pois ela era muito tímida e quase não saía de casa. Receavam que fosse algum aproveitador, pois ela não gastava o salário e tinha suas economias que guardara por anos a fio.

De nada adiantaram os conselhos, ela se casou e foi embora.

Passaram-se alguns anos e ela não dava notícias.

Um belo dia receberam uma carta, em que ela comunicava o falecimento do marido e os convidava para irem visitá-la.

A família, saudosa da boa empregada que os servira por tantos anos, aceitou o convite e viajaram para a cidadezinha onde ela residia.

Ao chegarem, ela os recebeu com carinho e lhes ofereceu um saboroso lanche, mas nada de falar onde o marido estava enterrado.

Curiosos, os antigos patrões indagaram se não poderiam ir até o cemitério visitar o túmulo do falecido.

Então ela disse que o marido não foi enterrado em lugar algum...

Contou que ele havia sido um péssimo marido, que não trabalhava e queria só saber de mordomias.

Acordava ao meio-dia e a obrigava a levar-lhe o café da manhã na cama! Fazia todo o serviço da casa sozinha e ele, além de não ajudá-la, ainda a criticava.

Disse que foi muito infeliz e por isso não os convidara antes para que fossem visitá-la.

Então os antigos patrões perguntaram onde estava o corpo dele.

Aí ela apontou para uma ampulheta que os ingleses usam para marcar o tempo de cozimento dos ovos e falou, com um sorriso de satisfação:-

Enquanto estava vivo, ele era vagabundo e não gostava de fazer nada, mas agora trabalha depois de morto!

Mandei incinerá-lo e coloquei suas cinzas nesta ampulheta.

Hoje ele serve para marcar o tempo de cozimento dos meus ovos!

Esther Ribeiro Gomes
Enviado por Esther Ribeiro Gomes em 08/04/2010
Reeditado em 09/04/2010
Código do texto: T2185717