O candidato

O caso é que o João estava demais. Se antes de ser candidato, a mulher já reclamava a falta de assistência ao lar, uma demoradinha na rede, agora é que o cara tinha endoidado de vez. Nem para a novela das sete, a novela que era coisa que ele mais dava valor, ele agora não estava ligando.Era acordar, escovar os dentes, lavar os suvacos, depois passar limão azedo, tomar um café com pão, pegar a pasta velha cheia de santinhos e se mandar. João cismou que tempo era dinheiro, como dizia seu João Claudino, time is mane,completava e se mandava. Agora a campanha tava fogo.Televisão era aquele pedacinho, só mostrar a cara e dar boa noite,dizer o nome e o número.João tirou dez reais do bolso e mandou a mulher se virar."Compra um frango". O mais chato é que os "eleitores" vinham todos pedir "oxílio" na casa do candidato. Ela dizia que ele só vinha de noite e uns falavam que iam esperar.Tratar mal os eleitores não podia, ave maria, o João matava ela se soubesse que ele maltratou um eleitor. Maria sabia que o bicho mais falso do mundo é eleitor.Antes de casar com João tinha trabalhado com político, foi até um vereador que fez "mal a ela", já casou barriguda, o João sabe, o vereador foi até padrinho do menino, ave maria ele adora o afilhado, já está na casa dos sete anos. Ruim era quando João chegava de noite.Depois dos comícios, das reuniões. Era entrar em casa dizendo que "tava morto", ia pro banheiro, tomava banho e ia para a rede. Ela chamava ele para a cama mas o cabra "rebeirava". "Tou morto !"- Õ João, qualé ? Primeiro a obrigação, depois a eleição !" Mas João achava que primeiro era a apuração e tinh que ter voto na urna."Depois de eleito, tu vai ter o João todo dia.Sossega Maria.Abaixa o facho!" Fumava um cigarro e dormia.

Maria estava muito injuriada.Uma semana e nada o João triscar. A briga foi feroz.Ele saiu sem tomar café.Ela disse que o primeiro eleitor que aparecesse lá ia saber o que era bom pra tosse.E foi Antonio Cajueiro, o felizard. Chegou inocentemente pedindo para o candidato comprar aqele remédio que ele estava sentindo uma dor de intrusidade.Maria veio com a mão de pilão e disse que aquilo era bom. Sapecou na cabeça do eleitor.O sangue escorreu, o homem correu gritando "chega que a mulhe tá doida". O carro do distrito compareceu para conduzir a agressora. Ela fechou a porta e disse que só ia se fosse conduzida pela delegacia da mulher.

Enquanto isso, como noticia ruim corre ligeira, já tinham achado o João e contado o fato.Ele quís saber se era eleitor dele. Disseram que era do Pedro Tamanco. Perguntou

Se era coisa grave.Nada.Só uma porrada no meio dos cornos. O cabo eleitoral perguntou se o candidato ia tirar a mulher da cadeia. Ele respondeu tranquilamente: Amanhã Hoje tem uma reunião com uma gata que ninguém é de ferro..

garrinchapiaui
Enviado por garrinchapiaui em 17/08/2006
Reeditado em 19/08/2006
Código do texto: T218870