Por Que A TV Só Passa Besteiras?

Por Que A TV Só Passa Besteiras?

Jorge Linhaça

Quem procura ver a TV fora do transe hipnótico que ela é capaz de produzir, há de perguntar o porquê de sua grade de programação brindar-nos com tanta inutilidade ao longo do dia.

Os poucos programas das grandes redes que realmente trazem algo de interessante e informativo, seja na área educacional ou empresarial, são jogados para a madrugada ou inicio da manhã dos fins de semana, ou seja, parecem ser feitos para não dar audiência.

Por incrível que pareça são os programas com menos intervalos comerciais, felizmente para nós.

Podemos avaliar pelo lado comercial das emissoras e acreditar que, como a TV é um negócio como outro qualquer, o interesse da emissora é gerar lucro. Até aí tudo bem, o problema é que a sede de lucro das emissoras não termina jamais...

Até os mais descompromissados assistidores de novela já devem ter percebido que as mesmas viraram vitrine para propaganda de produtos no meio da trama...perfumes, grife de roupas, carros, eletrodomésticos, cosméticos, redes bancárias...tudo é injetado no meio da trama para otimizar o lucro e incutir no telespectador o desejo de usar o mesmo produto ou serviço que os personagens da trama folhetinesca.

Que as histórias das novelas não valem nada e tem apenas a função de amplificar os maus hábitos sociais, glamourizando os vícios e imoralidade já não é segredo para ninguém.

Que os telejornais das maiores emissoras nada mais são do que manipuladores da opinião pública, muito menos.

A manipulação chega ao ponto de, na tragédia do Morro do Bumba, a Globo já estar empenhada em subverter os relatos dos sobreviventes. Já arranjaram alguém para contestar o barulho de explosão ouvido pelos moradores antes da terra se desprender e arrastar casas e pessoas por mais de 600 metros. Agora a culpa é da chuva que abriu cicatizes no alto do morro. Quem está pagando por isso, cabe à globo explicar.

E tome culpa no São Pedro de novo!!

O "ilustre" prefeito de Niterói, que está há quase duas décadas no poder, entre idas e vindas, insiste em dizer que "não sabia de nada" sobre os riscos do assentamento, no qual ele e outros prefeitos fizeram benfeitorias atraindo mais vítimas para o seu curral eleitoral.

A rede globo, que esperou minha crônica para resolver investigar seus arquivos sobre a tregédia, agora quer posar de boazinha e paladina da justiça.

Oras, se tinha tantos arquivos sobre o morro do bumba, porque não usou a sua força de maior emissora para denunciar e redunciar os perigos até que fossem tomadas providências?

Por que seus jornais se limitam a pincelar rapidamente os problemas antes que ocorram tragédias? Será que é porque as tragédias dão mais ibope?

Será que é porque é manipulada pelo jogo de interesses e pelos valores pagos pelos políticos para inserirem propaganda de seus municípios e/ou estados na grade de programação?

Não seria o caso de considerarmos a Globo, por conta de sua omissão perene, em relação às lutas sociais, como cúmplices da tragédia do Morro do Bumba e de outras tragédias?

Será que não é papel da emissora de TV refletir a realidade ao invés de tornar os personagens de suas novelas garotos propagandas das cidades onde as tramas ocorrem?

Falo aqui da Globo porque é a mais assistida pelas pessoas, mas o mesmo ocorre na maioria das emissoras.

Qualquer veículo de comunicação que tenha em seus arquivos

reportagens sobre problemas sérios, envolvendo risco de vida para os cidadãos, tem também a responsabilidade social de lutar para que as autoridades responsáveis sanem tais problemas. Se não saneiam tem que continuar batendo dioturnamente.

Omitir-se depois de dar a notícia, achando que já fez a sua parte ( muito mal por sinal, pois atualmente o jornalismo global não segue nem o be-a-bá do jornalismo, o tal "quem, onde, quando, como, porquê" limitando-se a fazer reportagens ridículas como...uma fábrica de colchões, em um bairro da Zona Leste de São Paulo pegou fogo nesta madrugada...oras bolas...que fábrica? que bairro? até parece que a Zona Leste de São Paulo só há de ter um bairro ou uma fábrica de colchões...e isso é só um exemplo...a grande maioria das reportagens da emissora são assim...numa cidade do interior...na Zona Norte do Rio de Janeiro...como se a reportagem fosse feita às pressas ou se os dados fossem omitidos propositalmente pela direção de jornalismo...afinal, segundo o chefão da área somos todos "Hommers Simpson", não entendemos nada do que é mostrado com profundidade.) é querer tapar o sol da verdade com a peneira da impunidade.

Estes dias entramos em luto com a morte do grande jornalista Armando Nogueira, um dos criadores do Jornal Nacional...pobre Armando...devia estar arrependido de ter criado algo que ao longo do tempo transformou-se em qualquer coisa menos jornalismo.Lutou tanto para dar credibilidade ao jornalismo televisivo para no fim ver essa coisa inerte, omissa e superficial em que se transformou o JN.

E não venham me falar do prêmios de jornalismo pois todos sabemos que são manipulados por interesses ou votados pela massa de espectadores que sequer assistem outros jornais.

Enfim, se a TV hoje não tem qualidade, se limita-se a programações obtusas e que nada acrescentam à população como um todo, a culpa é de todos nós que , até por falta de opção, conferimos-lhes a audiência tão desejada.

Para as emissoras é mais cômodo colocar novelas enfileiradas na programação do que investir em uma programação de qualidade...

Se ao menos os autores de novelas parassem de ser levianos usando sempre as mesmas fórmulas dos contos de fada e propaganda religiosa e, ao menos uma única vez, retratassem a realidade em seus folhetins, parando com essa irritante mania de retratar os pobres como classe média ou glamourizando os vilões, criando neles a figura do anti-herói bem sucedido até os capítulos finais, talvez deixassem de contribuir para que parte dos nossos jovens acreditassem que podem se dar bem e aproveitar a vida, ao menos por um pequeno período de tempo, usando de todos os artifícios que a criminalidade lhe ofereça.

Não se pode menosprezar a idéia recorrente na cabeça desses jovens de que morrer cedo é normal, portanto é melhor aproveitar todo o luxo de que possam usufruir em sua efêmera existência.

Até lá, nossa única opção é trocar de canal para a TV cultura por exemplo, ou desligar nosso aparelho de TV na esperança de que a maioria das pessoas faça o mesmo, despencando a audiência das emissoras até que as mesmas repensem a sua programação.

Abraços fraternos

Jorge Linhaça

SP, 11 de abril de 2010