Placa do onibus

Em decorrência de dificuldade financeira tirei meu filho de uma escola considerada a melhor do bairro, o matriculei em uma outra de menor valor. Ele não aceitou, coisa normal de criança.

Para que ele ficasse mais tranqüilo fiz algumas promessas, prometi que no primeiro dia de aula o deixaria retornar sozinho de ônibus, quando saísse da escola.

Ele tinha apenas 8 anos de idade. Entrar em um ônibus sozinho era o desejo dele, nunca havia saído de casa sozinho, era a forma dele se sentir maior, independente.

Chegou o primeiro dia de aula, eu expliquei o nome do ônibus, a cor do ônibus, disse a ele para atravessar a rua com cuidado, descer na quarta parada, não aceitar bala ou bombom de ninguém, não conversar com nenhum desconhecido. Expliquei direitinho, assim pensei.

Quando chegou o horário da saída da escola fiquei atenta, na janela de casa. Estava ansiosa, nervosa, pois jamais tinha permitido meu filho andar sozinho, era um fato inédito para mim.

Fiz um calculo de tempo para sua chegada, fiquei a espreita. Passou uns 20 minutos e nada, mais cinco minutos nada, mais cinco nada. Comecei ficar descontrolada, nervosa, tremendo.

O pai dele nem imaginava o que estava acontecendo, certamente teria ficado da mesma forma. Só fui tolerante estes tantos minutos porque justamente naquele dia eu estava sem carro.

Aproximadamente quarenta e cinco minutos após a saída da escola meu filho chegou em casa, super alegre, parecendo que tinha ganho o melhor dos brinquedos.

Quando o vi se aproximando meu coração descansou, que alivio, eu já estava quase chorando de tanto desespero.

Assim que o elevador chegou, abriu a porta muito alegre e disse:

- Mainha, o ônibus CABULA SEIS não veio.

- Tive que pegar o CABULA VE UM.

Conclusão:

Meu filho foi orientado por mim de forma errada, eu havia esquecido que o ônibus " CABULA VI " incluía o algarismo romano.

Ele era muito novo para conhecer algarismo romano!

A proposito, CABULA VI , para quem desconhece, é um bairro popular de Salvador!

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Marina Gentile
Enviado por Marina Gentile em 13/04/2010
Reeditado em 12/07/2010
Código do texto: T2195202
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