Cuide-se
Estando ainda sob os efeitos de minhas duas últimas crônicas veio ter em minhas mãos um exemplar da Revista Bravo de julho de 2009, por mim mesma comprado e colocado em circulação para que um maior número de pessoas pudesse ter acesso a ele.
Meu tempo é relativamente escasso e por essa razão muitas vezes compro revistas e não consigo ler todas as matérias. Ou não me interesso por elas. Foi o caso dessa matéria sobre a qual vou escrever agora. A revista estava sobre uma mesinha, na sala de espera do meu local de trabalho e eu comecei a folheá-la enquanto esperava o momento de dar início a uma reunião. E o que li, achei muito interessante.
Mas antes de explicar o que li vou fazer uma pergunta: O que você faria se a pessoa que amasse e com a qual tinha uma relação amorosa rompesse o relacionamento através de um e-mail?
Pois ali estava a história que passo a contar agora, uma história real. Os personagens, sinceramente eu nunca ouvi falar deles antes: Sophie Calle artista plástica francesa de renome estava na Alemanha quando recebeu um e-mail do namorado, o escritor Grègoire Bouillier dando-lhe um monumental fora.
Evidentemente ela mergulhou naquele período que, em minhas crônicas anteriores, chamei de luto ou tempo vago, aquele tempo que levamos para nos acostumar com uma perda e seguir em frente. E para sair dele fez algo absolutamente original e criativo.
O e-mail também publicado na revista não será transcrito aqui, por várias razões: é muito grande e não tenho autorização para fazer isso. Mas em linhas gerais o autor da missiva iniciou dizendo que preferia falar o que tinha para falar cara a cara. Mas que ia fazê-lo mesmo por escrito. (O que demonstra para mim uma enorme falta de coragem). Continua falando de seu péssimo estado emocional e confessa que nos últimos tempos manteve a promessa feita de ser fiel – tinha deixado de visitar as suas três amantes. Mas não estava feliz e por isso, durante a ausência dela, tinha voltado a procurar as “outras”. Reclama da impossibilidade de continuarem amigos, porque isso era imposição dela: se não fossem amantes também amigos não seriam. Pois então, embora a amasse muito e considerasse o caso entre eles como “único” ele iria se afastar e respeitar a decisão dela. E termina com um lacônico: Cuide-se.
E aí eu retomo a pergunta: O que você faria? Também acrescento outra; O que pensa de uma situação dessas?
Sophie não respondeu ao e-mail embora fosse isso que Grègoire esperava. Após algum tempo preparou uma instalação e lançou-a na Bienal de Veneza. O nome da instalação – Cuide-se. Na instalação ela exibiu o e-mail recebido e a interpretação textual que cento e quatro mulheres, duas marionetes e uma cacatua lhe davam. Escolheu as mulheres de mais variadas condições sócio-econômicas e pediu-lhes que lessem e interpretassem a carta da maneira que achassem melhor. A revista cita algumas – uma antropóloga, uma criminologista, uma menina de nove anos, uma consultora de etiqueta,uma mestre de ikebana, uma jogadora de xadrês, uma vidente, uma locutora de rádio, uma rapper, uma palhaça, uma bailarina e até a própria mãe. Atrizes famosas também foram convidadas a se manifestarem: Jeanne Moreau, Miranda Richardson, Victória Abril, a portuguesa Maria Medeiros e outras mulheres ligadas ao mundo das artes. Relata o autor da reportagem, Armando Antenore, que a cacatua mal viu o e-mail impresso rasgou-o com o bico enquanto eriçava as penas balbuciando: “Eu sempre vou amar você”.
Eu pessoalmente achei que foi uma belíssima vingança. Mas o caso é claro teve desdobramentos. Um deles foi propiciado pela própria Bravo que pediu a cinco pessoas que se manifestassem sobre o assunto, através de vários tipos de arte, incluindo cartoon , música e conto. E continua tendo porque eu achei a história tão fascinante que resolvi passar a bola para quem quiser se manifestar. Quanto a mim acho que faria como a cacatua e enquanto estivesse rasgando o e-mail (não com o bico, mas com as mãos) estaria também resmungando: Cuide-se você idiota. E depois colocaria fogo no papel rasgado porque o fogo purifica.
Obs - Quem quiser saber mais sobre o assunto é só procurar através do Google que tem muita coisa.
Estando ainda sob os efeitos de minhas duas últimas crônicas veio ter em minhas mãos um exemplar da Revista Bravo de julho de 2009, por mim mesma comprado e colocado em circulação para que um maior número de pessoas pudesse ter acesso a ele.
Meu tempo é relativamente escasso e por essa razão muitas vezes compro revistas e não consigo ler todas as matérias. Ou não me interesso por elas. Foi o caso dessa matéria sobre a qual vou escrever agora. A revista estava sobre uma mesinha, na sala de espera do meu local de trabalho e eu comecei a folheá-la enquanto esperava o momento de dar início a uma reunião. E o que li, achei muito interessante.
Mas antes de explicar o que li vou fazer uma pergunta: O que você faria se a pessoa que amasse e com a qual tinha uma relação amorosa rompesse o relacionamento através de um e-mail?
Pois ali estava a história que passo a contar agora, uma história real. Os personagens, sinceramente eu nunca ouvi falar deles antes: Sophie Calle artista plástica francesa de renome estava na Alemanha quando recebeu um e-mail do namorado, o escritor Grègoire Bouillier dando-lhe um monumental fora.
Evidentemente ela mergulhou naquele período que, em minhas crônicas anteriores, chamei de luto ou tempo vago, aquele tempo que levamos para nos acostumar com uma perda e seguir em frente. E para sair dele fez algo absolutamente original e criativo.
O e-mail também publicado na revista não será transcrito aqui, por várias razões: é muito grande e não tenho autorização para fazer isso. Mas em linhas gerais o autor da missiva iniciou dizendo que preferia falar o que tinha para falar cara a cara. Mas que ia fazê-lo mesmo por escrito. (O que demonstra para mim uma enorme falta de coragem). Continua falando de seu péssimo estado emocional e confessa que nos últimos tempos manteve a promessa feita de ser fiel – tinha deixado de visitar as suas três amantes. Mas não estava feliz e por isso, durante a ausência dela, tinha voltado a procurar as “outras”. Reclama da impossibilidade de continuarem amigos, porque isso era imposição dela: se não fossem amantes também amigos não seriam. Pois então, embora a amasse muito e considerasse o caso entre eles como “único” ele iria se afastar e respeitar a decisão dela. E termina com um lacônico: Cuide-se.
E aí eu retomo a pergunta: O que você faria? Também acrescento outra; O que pensa de uma situação dessas?
Sophie não respondeu ao e-mail embora fosse isso que Grègoire esperava. Após algum tempo preparou uma instalação e lançou-a na Bienal de Veneza. O nome da instalação – Cuide-se. Na instalação ela exibiu o e-mail recebido e a interpretação textual que cento e quatro mulheres, duas marionetes e uma cacatua lhe davam. Escolheu as mulheres de mais variadas condições sócio-econômicas e pediu-lhes que lessem e interpretassem a carta da maneira que achassem melhor. A revista cita algumas – uma antropóloga, uma criminologista, uma menina de nove anos, uma consultora de etiqueta,uma mestre de ikebana, uma jogadora de xadrês, uma vidente, uma locutora de rádio, uma rapper, uma palhaça, uma bailarina e até a própria mãe. Atrizes famosas também foram convidadas a se manifestarem: Jeanne Moreau, Miranda Richardson, Victória Abril, a portuguesa Maria Medeiros e outras mulheres ligadas ao mundo das artes. Relata o autor da reportagem, Armando Antenore, que a cacatua mal viu o e-mail impresso rasgou-o com o bico enquanto eriçava as penas balbuciando: “Eu sempre vou amar você”.
Eu pessoalmente achei que foi uma belíssima vingança. Mas o caso é claro teve desdobramentos. Um deles foi propiciado pela própria Bravo que pediu a cinco pessoas que se manifestassem sobre o assunto, através de vários tipos de arte, incluindo cartoon , música e conto. E continua tendo porque eu achei a história tão fascinante que resolvi passar a bola para quem quiser se manifestar. Quanto a mim acho que faria como a cacatua e enquanto estivesse rasgando o e-mail (não com o bico, mas com as mãos) estaria também resmungando: Cuide-se você idiota. E depois colocaria fogo no papel rasgado porque o fogo purifica.
Obs - Quem quiser saber mais sobre o assunto é só procurar através do Google que tem muita coisa.