Rápido Demais

Kelson acordou mais cedo que os outros naquele dia.

Dia de trabalhar. 5 da manhã. Plantação de kiwi na Nova Zelândia. Essa vida de jovem mochileiro era árdua, mas com vinte e poucos anos não havia nada melhor pra se fazer.

Kelson chegara até ali por acaso, fugido do pai em Brasília, ex-militar que não aceitava a idéia do filho de não querer servir a pátria. Perdido no exterior, agora dividia uma casa com outros brasileiros na mesma situação. Todos trabalhadores rurais, ilegais. Todos os dias. 5 da manhã. Entre todos eles, Pituco.

Um paulista alucinado com um Black Power. Um daqueles casos onde não se consegue visto para a Austrália e acaba-se na Nova Zelândia. A Disneylândia.

Naquele dia trabalharam como o de costume. Podando árvores e escutando as teorias miraculosas de Pituco.

Pituco já havia feito de tudo na vida. Fora jogador de ping pong, pólo aquático, campeão de snowboard. Fora vizinho do Amoroso da seleção e seu avô tinha uma águia de estimação no centro de São Paulo.

Naquele dia Pituco disse que a uma certa velocidade, tudo vira energia.

Pituco tinha um Honda Vigor esportivo, de 250 cavalos, mas não guiava muito bem. Aliás, guiar era de fato um problema pra ele.

Esses dias Kelson falou com o Bruno na Internet. Um outro brasileiro que dividia a casa na Nova Zelândia.

- E ai? Onde tu anda? E o Roberto? E o Miagui? E o Pituco???

- Eu to em Santa Catarina... O Roberto parece que ta na Austrália, e o Miagui ta casado com uma holandesa e morando em Porto Alegre.

- E o pituco???

Silêncio...

- Virou Energia