Profissão: pai do lateral

Conversando hoje com um amigo que curte a expectativa da paternidade, fiquei sabendo que ele já decidiu até a profissão do futuro rebento: vai ser lateral-direito. Tive que aplaudir: escolha melhor impossível.

Todo profissional vale pela sua raridade. Qualquer lateral-direito, por mais limitado que seja, fatura lá seus R$ 30, 40 mil mensais, e apesar disso a garotada só tem como meta as posições mais nobres do futebol. Vá tentar convencer qualquer menino a ser o lateral do seu time na escolhinha. Impossível. Empreendedorismo não é para crianças. Por isso, aconselho meu amigo a vestir a camisa 2 no menino já na maternidade.

Além do destino traçado, o filho do meu amigo já tem até clube. Vai defender o flanco direito do Inter. Não só pela coloradice do pai, mas porque o time do Beira Rio é, de fato, bom de negócio. Vende para a Europa qualquer jogador mediano por valores semelhantes aos que o Grêmio negocia seus melhores atletas. Fosse colocar sua prole no estádio Olímpico, em pouco tempo o menino estaria sendo emprestado para algum time do nordeste, das mais obscuras divisões do futebol brasileiro.

Mais nobre que a perspectiva do herdeiro, de viver no mundo do futebol - ainda que às margens da elite dos centroavantes -, só mesmo a perspectiva do meu amigo. Afinal, quem mais sonha em ser o pai do lateral-direito?

Andrei Andrade
Enviado por Andrei Andrade em 14/04/2010
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