Melhor ser mega feliz

“Rohrbacher”, a placa ao lado da estrada não deixava dúvida: a grafia era a mesma do sobrenome do Hercílio e de mais muita gente em São Bento e Joinville. Pareceu-me tão pequena e lembrei de uma banda que se apresentara em São Bento: o dirigente explicou que quase 10% da população de sua cidade, naquele momento, estava no palco do Centro Cultural. A curiosidade e um pouco de espírito sacana me fizeram entrar. Parei numa livraria em busca de um cartão postal para enviar ao Hercílio; não havia, apenas um folheto do time de futebol. Servia. Pouco mais de 700 habitantes tinha a cidade alemã – se bobear, os Rohrbacher do lado de cá são mais do que os habitantes da metrópole que leva seu nome –, mas organizada, limpa e com a infraestrutura necessária. Não perguntei, mas não creio que o sonho de seus habitantes era morar em Berlim.

A lembrança me veio quando um amigo que não mais conhece São Bento e Rio Negrinho começou com aquelas gozações de barbas brancas: “A placa de bem-vindo, no outro lado traz: Boa viagem”, “Sinaleiro é para o pessoal parar na cidade”. Há muito, nenhuma das duas cidades se enquadra nessa classificação, mas não importa: o que conta é o preconceito implícito, aquele que acha que qualquer cidade, para ser boa, tem que ser grande. Não sei bem como classificar isso, mas o equívoco é enorme e evidente. Ao menos no Brasil, quanto maior, pior. Muito porque foi esquecido um ditado antigo: “É de pequenino que se torce o pepino”. Deixa-se acontecer para tentar corrigir depois, normalmente após alguma tragédia.

Moro em uma cidade em que é chique ser “mega” e, por conta disso, os motoristas buzinam, “costuram” como se estivessem num vídeo game, grande parte do mangue foi transformado em cidade, o Centro, já congestionado, vai receber prédios mais altos – a tal da “verticalização”, com a desculpa esfarrapada de que os pobres também merecem morar no Centro – esquecendo que o progresso começa com raízes de saneamento, o plano diretor privilegia o concreto, em detrimento do verde e do futuro, o rio que “banha” o centro é mais negro do que o asfalto que o margeia e a beleza de outrora desapareceu, engolida pelo “progresso”.

Em compensação, se você não aceitar sacola plástica em algum comércio, vira marciano e se parar na faixa para dar passagem a pedestre, comete suicídio e homicídio.

Quem sabe, valha mais a pena usar a mesma placa para desejar boas vindas e boa viagem e torcer o pepino antes que ele fique grande demais. Melhor ser mega feliz.