Naufrágio de ilusões

Na quinta-feira, dia 8 de abril de 2010, fui surpreendido com uma notícia triste e trágica. Um desembargador que estava sendo investigado foi “condenado”. Um homem conhecedor da lei. Já de idade. Um magistrado de respeito e boa índole. A Operação Naufrágio, como foi chamada a investigação de um suposto esquema de vendas de sentenças, entre outros crimes condenou um desembargador a viver aprisionado em sua própria existência, sem sequer ter direito a desfrutar do cárcere privado, sem sequer ter direito de experimentar o piso frio da solidão atrás das grades. Fico triste por tirar dele esse direito. Pobre coitado, nunca poderá ver o sol nascer quadrado. Pois a lei que tanto tempo esteve do seu lado se vê obrigada a condená-lo a liberdade por uma aposentadoria compulsória. E como se não bastasse tamanha crueldade dessa lei, ele ainda é obrigado a receber mensalmente, pelo resto de sua vida uma quantia “irrisória” de mais de 20 mil reais, que talvez não seja suficiente pelos serviços prestados à sociedade, como a corrupção, por exemplo. Uma quantia que qualquer trabalhador honesto levaria anos pra juntar. O que dizer então dos aposentados pelo INSS?! Ah! É triste! Muito triste condená-lo a receber tal quantia, já que nossos verdadeiros trabalhadores aposentados ganham muito mais do que essa quantia. Não é verdade?

Eu me compadeço deste homem. Pobre alma que vaga pelo mundo a fora. Não terás mais que trabalhar para teu sustento. Descanse e desfrute de tua condenação. Viaje bastante, sente à beira da praia e aprecie o horizonte. Vá aos melhores restaurantes e aproveite o que há de melhor na culinária. E quando sentir uma dorzinha de cabeça, um mal estar, chame aquele médico particular, aquela enfermeira atenciosa. Ah! E não se esqueça de dar a melhor educação para teus filhos e netos queridos, para que eles sigam teu caminho. E seja tu, um exemplo a ser seguido de uma sociedade “justa”. A sociedade parabeniza sua aposentadoria! Naufrágio! Um verdadeiro Naufrágio!