Personagens de minha Sampa.

Há muitos anos o vejo em sua faina diária com clientes conhecidos, outros não, o mesmo olhar manso e rápido, atendendo mesas e sorrindo para todos, sei coisas de sua vida nos conversamos quando o movimento é menor, sei do seu amor pelo restaurante, que ele chama de casa, pela cidade que adotou na juventude e que já lhe deu netos, e solidários vez ou outra, recordamos outros tempos, nossos sonhos.O meu de despojar minha “Sampa” dos prédios pasteurizados e iguais e devolvê-la, a sua pureza majestosa. Jamais enterrei meus mortos de “Sampa”, as pessoas e as construções. Enterrei apenas as suas mortes, os guardei vivos dentro de mim, pois ainda tenho visitas tantas a fazer tantas discussões carinhos e amores inacabados por viver. Por isto mantenho a imagem da criança que teimosamente vive dentro de mim, sentada e calada no colo da minha alma. E nos confortamos ambos, eu e a minha criança das vidas que vivemos juntos, das mortes que desconhecemos, do passado que não vive sem o futuro, e não permitimos ser esquecido. Os dele de dar uma casa a cada um dos filhos, ( já deu duas) formar o mais novo e casá-lo, voltar com sua "velha" companheira, para sua cidade natal perdida no sertão de Pernambuco, respirar o ar de sua infância comer umbu no pé e deixar seus ossos descansarem com os dos seus antepassados.Ao termino do devaneio, e da fuga para dentro de mim recebo um obrigado do Martins (o garçom), almoço feito gorjeta paga, olho para D. que levei para conhecer e sentir o odor do lugar, inseri-la em minha vida...como alguém querida que é. Retornamos, caminho de volta agora passando pela velha e querida Galeria Nova Barão, aonde encontro muitos vestígios de mim, quando ainda era eu. Sentamos num banco vago, deixando o torpor da refeição gostosa nos envolver numa sonolenta conversa, conto coisas antigas desta minha terra aos seus ouvidos, pouco importando os passantes que nos observam, beijo D. temos que voltar as nossas vidas. O tempo nos transforma mas minha terra permanece a mesma em meu peito.

Carlos Said

(Textos de Sampa sempre incluem textos outros que fazem parte do meu blog...)

Carlos Said
Enviado por Carlos Said em 21/04/2010
Reeditado em 01/09/2013
Código do texto: T2210074
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