Politicamente correto: a hipocrisia institucionalizada

Limite é o que falta à hipocrisia cerceadora. Chegou a hora de parar, antes que transforme a vida numa pasta insossa, uma areia movediça de mediocridade a engolir o brilho dos instantes, a alegria dos desafios, a graça de todas as diversidades, a inteligência acumulada por milênios, a curiosidade que impulsiona a humanidade, a poesia do desconhecido, o sopro da ousadia que torna o futuro possível.

Tentando batizá-lo de respeito, inventaram o politicamente correto e construíram um altar para a hipocrisia. Incensaram o medo de ser autêntico e de expor a cara.

Os eufemismos e a postura dos macaquinhos (não ver, não falar, não ouvir) foram institucionalizados como desejáveis e necessários para que ninguém fosse ofendido. E cada gesto, outrora ingênuo e autêntico se transformou em um tapa na cara.

Chamar alguém de “negro” é ofensa por quê, se “branco” não o é? Ah, é por causa da opressão histórica e pelo peso que a palavra carrega. Ora, ora, tiremos seu peso e fiquemos com sua beleza. Já que o problema é herança, Meu Deus, que enorme e belíssima herança a dos negros para a humanidade, na cultura, nos costumes, na culinária, nos esportes, na luta social, na sabedoria que tem coragem de não ser acadêmica, mas profunda e maravilhosa e coloque quantos etecéteras quiser. Chamar de “afro seja lá o que for” é apenas esconder o preconceito atrás de um palavreado que não faz sentido, uma vez que toda humanidade é afro na sua origem. Se eu fosse negro, teria orgulho e não gostaria de ser tratado como alguém que se ofende por isso.

Portadores de necessidades especiais são rotulados com uma montanha de substantivos e adjetivos leves, muito mais denotando pena do que respeito, mas as rampas nas calçadas, só para citar uma coisa, são uma lástima (existem?).

Grupos religiosos negam a ciência, o já provado, com a maior cara de pau do mundo e outros vendem a felicidade na Terra e o caminho para o Céu, mas, por “respeito religioso”, nem as comunidades religiosas mais “pé no chão” e que não fazem isso, nem as autoridades nem o raio que o parta se expõe e dizem a verdade.

O politicamente correto é um câncer eufemístico, uma desculpa para não olhar a realidade e enfrentá-la dignamente. É a hipocrisia institucionalizada que incentiva a covardia.