Pior Encontro de Toda Minha Vida

Eu estava lindinha. Eu estava usando meu vestido azul escuro até os joelhos e sandálias pretas de salto alto. Eu caprichei na maquiagem, o que não foi difícil, pois eu amo maquiagem. Tudo isso parecia demais para um encontro informal, mas era meu primeiro encontro com esse carinha. A verdade é que só íamos a um barzinho, jogar conversa fora, tomar alguma coisa, nada demais; mas minha amiga falou tão bem dele que criou milhões de expectativas em mim. Fazia tempo que eu não saia com alguém, exatamente três anos, quatro meses, 17 dias, 18 horas, 32 minutos e 15 segundos... 16 segundos, digo... 17... enfim...

Eu queria sair com esse cara, ia fazer bem para mim e depois de tudo que a Adriana falou dele eu estava realmente a fim de conhecê-lo.

Rodrigo viria me buscar às 19h e na última vez que nos falamos por telefone ele disse que eu me surpreenderia no encontro. Eu estava confiante e ansiosa, pois o que me esperava era um encontro maravilhoso.

Ele chegou as 19h20minh mas tudo bem, pode ter acontecido um imprevisto e um atraso não estragaria a minha noite. Corri para abrir a porta e antes de abrir dei uma última olhada em mim no espelho do lado da porta. Lá estava ele com o cabelo bem arrumado e... o que era aquilo? O homem estava usando uma camisa de malha branca toda amassada, calça jeans surrada e tênis velho e cheio de lama!

- O-oi Rodrigo, tudo bem? – Tentei perguntar, ainda na porta, sem gaguejar.

- Oi gatinha, qual é? Podemos ir? – disse o abarrotado Rodrigo.

Fechei a porta e começamos a andar, aproveitamos o caminho até o carro dele para conversar, contar como foi a semana. Rodrigo havia contado todos os detalhes da sua semana, todo o tempo que passou assistindo desenhos na televisão. Mas até aí tudo bem, não posso julgar o homem por causa disso. Adriana disse que ele era um artista, talvez ele veja desenhos para ter inspiração. Afinal, quem não gosta de desenhos? Mas o que reparei é que nunca chegávamos ao sue carro.

- Você esqueceu onde estacionou sue carro? – Perguntei tentando ajudar.

- Que carro? Ah não, eu não vim de carro! – Ele falou sorridente.

- Ah, tudo bem. Então onde vamos pegar um taxi ou ônibus?

- Ah, eu pensei em irmos a pé já que são apenas 30 minutos de caminhada! – disse Rodrigo apertando minha mão.

Sinceramente, eu, no início, fiquei em choque. Tudo bem que o cara não tinha carro, não estava saindo com o seu dinheiro ou carro, mas pensei que iríamos de taxi pelo menos. Eu estava usando um salto agulha enorme e, com certeza, eles não foram feitos para serem usados numa caminhada; mas tudo bem, o cara era artista. Ele caminha para ver a vista, apreciar a noite. Relevei isso.

Chegamos ao barzinho. Logo que percebi aonde ele estava me levando fiquei contente pois o bar Capelli tinha um ambiente muito agradável, a música era boa e as mesinhas do lado de fora eram decoradas com um toque caseiro que transmitia um ar aconchegante e romântico.

- Nossa, as mesas daqui de fora são lindas. – comentei de forma bem sonsa pois eu queria sentar ali fora.

- Sim, mas vamos sentar lá dentro. É melhor.

Ele entrou sem ao menos olhar para mim e a minha vontade de sentar lá fora teve que passar. Por um momento passou pela minha cabeça a idéia de que ele não queria sentar lá fora por ser mais caro, mas logo descartei. Talvez ele quisesse se livrar do barulho dos carros, das pessoas transitando, etc.

Resolvemos pedir nada inicialmente, estávamos cheios de expectativa para nos conhecermos logo, saber mais um do outro e decidimos fazer nosso pedido depois.

- Então Rodrigo, você me falou que estava cheio de planos para esse ano. – perguntei muito interessada sem tirar os olhos dele.

- Sim, muitos planos. Só estou esperando passar esse mês para retomar os meus projetos. – ele falou com um ar sério.

- Mas porque só no próximo mês?

- Eu estou me divorciando. Mudando para outro lugar.

- Ah sim, está se mudando para seu apartamento. Sei como é mudança.

- Não, estou indo morar numa pensão e nem está tão incômodo se mudar. Lá é uma pensão só para homens e conheço todos os moradores de lá, são meus amigos e eles me ajudam, carregam as minhas coisas.

-Ah sim, entendi... – murmurei em choque.

-O fato mais triste é a separação. É triste se separar...

- Deve ser uma situação muito chata mesmo. Os dois lados saem afetados...

- Sim, sim, e a Gabriela é uma mulher de temperamento muito difícil. Com certeza ela está sofrendo muito, eu também estou sofrendo muito. É uma situação nada fácil...

- Pois é, imagino... disse na verdade sem saber o que dizer.

- Não imagina não. Sabe como é perder o amor da sua vida? Mas não combinávamos, acho. O amor se foi, a química... Uma situação péssima... Sinto que a Gabriela sente o mesmo.

O assunto estava ficando triste e falar da ex-mulher não era o que eu queria. Então tentei mudar de assunto...

- Achei ótima a sua escolha de vir para cá. Gosto muito desse barzinho... – disse tentando parecer bem meiga e carinhosa.

- Eu também gosto muito daqui, era o bar preferido da Gabriela...

Novamente o assunto retornou a tal da ex-esposa e ficou nisso por 10 minutos. Parecia uma eternidade. Dez minutos de choradeira e lamúrias. Cansada, desviei o assunto para seu trabalho.

-Adriana me disse que você é artista. Achei bem interessante. Com que tipo de arte você lida? É formado em história da arte, trabalha em museu, é artista plástico? Como é?

- Não, eu sou artista de circo e atualmente cuido dos animais. Estou escrevendo um livro também sobre isso. Gabriela estava me ajudando a escrever...

Traduzindo: Frustrado e falido e mais 20 minutos de conversa sobre Gabriela em meio as lágrimas.

- Bom, o que acha de fazermos nosso pedido? – ele perguntou depois de enxugar seus olhos e de dar uma assoada no nariz na sua camiseta amassada. Deus, aonde eu fui amarrar meu burro?

- Pode ser... – A essas alturas eu já estava mais do que desestimulada com o encontro. Estava sendo surpreendente mesmo... do jeito que esse chorão falou.

- Garçom, por favor... –falou o infeliz ao fazer um gesto no ar.

- Pois não, senhor. – Disse o garçom ao se aproximar da mesa.

- Então, Rita, o que vai querer?

- Só quero uma garrafinha de água, por favor.

- E o senhor, o que vai querer? – Perguntou o garçom.

- Um copo!

Deu para acreditar nisso? O cara pediu um copo para beber da minha água! Que pão-durismo! O assunto já estava péssimo e a rapidez do garçom cortou o assunto desagradável da sua ex-esposa, ainda bem. Que alívio!

-Nossa! – exclamou Rodrigo quando minha água chegou.

- O que foi?

- É a marca de água que Gabriela bebia... (!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!)

Acho que o assunto da ex-esposa deu fome nele pois quando eu estava quase dormindo ele chamou o garçom e pediu uma porção de batata frita. Comeu tudo com uma gulodice, em segundos comeu aquilo e não me ofereceu. Eu fiquei com os dois dedos da minha água que restaram depois que o Sr.”artista” resolveu beber da minha garrafinha.

Tudo pareceu uma eternidade até que resolvemos pedir a conta e ir embora. Logo a conta chegou.

- E então, como vamos rachar? – disse o guloso empurrando a conta para mim.

Estava acontecendo aquilo mesmo? Eu só pedi uma água, ele bebe da minha água e ainda quer rachar comigo? Sem dizer nada, ignorando aquela pergunta estúpida, eu puxei uma nota de R$5,00 para pagar minha água que custou R$2,00 e coloquei sobre a mesa.

O sabichão pegou minha nota, guardou na carteira e tirou uma nota de R$100 da carteira para pagar a batata frita dele. Isso foi a gota d’água. Esse cara não era artista, era um pão duro!!

- Eu vou embora!- levantei rapidamente e irada. Toda minha produção feita para nada.

- Mas já?

- SIM!!

- Nossa, era exatamente assim que a Gabriela agia quando estava com...

- CALA A BOCA!!

- Calma. Espera, eu posso te telefonar durante a semana? Pode ser a cobrar? É que com a mudança eu ainda estou sem...

- NÃO ME TELEFEONE, SEU MUQUIRANA! PARA O DIABO QUE CARREGUE VOCÊ E SUA EX- ESPOSA GABRIELA!

- Nossa, a Gabriela agia dessa forma...

Há muito tempo eu não postava textos, estava com saudades. Obrigada a todos pela atenção.

Dita Spieluhr
Enviado por Dita Spieluhr em 23/04/2010
Código do texto: T2214483
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