Subtileza da piada brasileira

Penso que o amigo leitor, talvez já tenha se dado conta de certas coisas que imperam nesse país. Uma delas é sobre a questão do humorismo. Sim, a capacidade de se fazer piada com tudo.

Não tenho acesso a dados de outros países, muito menos os nacionais, mas pelo que me consta, esse é o país com a maior concentração de humoristas por metro quadrado. Nasce-se de uma piada. Sim, porque o próprio ato sexual abrange quase todas as piadas que se refiram os casais heterossexuais.

Volto a dizer, que não sei como é nos outros países. Provavelmente as piadas sejam um pouco melhores. Talvez até inteligentes.

Pois este próprio país, nasceu de uma piada. Imagine Pedro (o Álvares Cabral), acreditando piamente que estava no caminho certo para as índias, e de repente, dá de cara com um monte de gente nua. Digam-me se não é uma piada pronta. Talvez daí tenha vindo as piadas de português.

Não acho o “piadismo”, um mal de todo. E bom tirarmos alguma graça das desgraças. Mas há momentos em que é muita coisa pra se rir. Aí é hora de se desconfiar.

Ao longo de nossa história, desde a piada primordial do descobrimento, tudo é gracejo. Seja o D. João comedor de coxas de galinha, seja a Carlota Joaquina batendo os tamancos no barco, dizendo que desta terra não queria nem o pó. Talvez ela não tivesse senso de humor. Ou talvez, as piadas espanholas fossem melhores que as nossas. Seja como for, tem piadas pra todos os gostos nesse país: tem Collor Fazendo cara de sério e enchendo o lago de carpas e tem Zélia congelando as contas e não sabendo explicar o porquê para Lílian Witfibe .

Nas artes, tem Paulo Coelho sagrado imortal da Academia Brasileira de Letras. Aí, cabe uma dupla piada. A primeira é que, sendo ele um mago, não necessitaria do subterfúgio da academia, para não morrer nunca. A outra, é que não se sabe como “Brida”, poderia estar no mesmo nível da Capitu, a personagem de Machado de Assis. Tem também piadas cabeludas. Isso, desde que uma louca resolveu balançar o traseiro em cima de uma garrafa de cerveja, e outra resolveu mostrar o “derriere” ao invés do rosto na televisão. Nesse caso citado, obviamente não estamos falando da arte musical, que, aliás, é inexistente aí. Mas sim da arte de se vender sexo.

Isso é uma pequena amostra de quão jocoso pode ser esse país. Do seu lado, caro leitor, se olhar bem, pode ter uma piada pronta, prestes a se manifestar.

Provavelmente, há explicação para isso. Uma das explicações que encontro, é a nossa capacidade de abstração. Não tendo como se mudar os fatos, faz-se piada para não se chorar. Porque se olharmos friamente alguns fatos, veremos que são mais trágicos que cômicos. O próprio sofrimento pode levar a isso. Entretanto, certas piadas, só alguns entendem. Um bom exemplo é a corrupção. A pizza é uma piada e tanto no final das CPI’s. Mas só quem se livra das acusações ri. Nós ficamos com cara de tacho.

Sabe-se que a piada, mudando-se a cultura, é ininteligível. Mas acho que a piada brasileira, é acessível a quase todas as nações. Haja vista a quantidade de turistas que chegam por aqui. Não se engane, achando que essa gente toda vem pra cá porque o país é maravilhoso. Não. Essa gente vem aqui em busca de piadas. Piadas que só os brasileiros sabem confeccionar. Como a piada da mulata sorridente, que se esfrega no estrangeiro (e no brasileiro também). Ou a piada já velha do acarajé, que sempre deixa alguém inválido, com uma incrível reação intestinal.

Quem me vê falando assim pode até pensar que tenho algo contra esse país. Longe de mim. Só tenho contra a baixaria, a corrupção e a prostituição da justiça. Essas sim, por trás das piores piadas desse país e do mundo. Há piadas até jeitosas por aqui. Como a daquele jogador que perdeu o hexa por estar ajeitando um meião. Há quem diga que ele estava fazendo yoga em campo. Mas piadas sérias, que assaltam os cofres públicos e produzem todo tipo de miséria, essa sim, tem de ser extirpada. Dessa, não há como rir.

Sendo essa uma época de eleições, nesse nosso pândego sistema eleitoral, é importante deixar a graça de lado. Deixe os gracejos para certas figuras que aparecem na televisão. Se formos fazer piadas nas urnas, certamente não ficaremos 4 anos rindo. A não ser que se torne engraçado ficar desempregado, e violentado por toda sorte de atrocidades.

Com certeza, esse país jamais perderá sua capacidade de fanfarronice. Isso está no nosso DNA. Mas um pouco de seriedade é bom às vezes. Deixemos para rir apenas quando surgirem legítimas anedotas como uma discussão em mesa redonda, sobre a importância do blush rosado, em cerimônias de casamento no Timor leste. Caso contrário, amigo leitor, feche a cara. E lute por piadas dignas. Proteste. Faça panelaços. Pinte a cara. Mas não aceite a piada de baixa qualidade. A piada que nos coloca em posição de idiotas. Sim, porque quem ri sem entender a piada, é idiota. Um exemplo disso é a piada da Petrobrás. O presidente não entendeu o seu conteúdo, e deu no que deu.

Fora isso, rir ainda é o melhor remédio. Mas reitero o conselho: cuidado com o que você ri. No final, o palhaço pode ser você.....

EDUARDO PAIXÃO
Enviado por EDUARDO PAIXÃO em 21/08/2006
Código do texto: T221627