"FEIJOADA DANÇANTE"

Reunião! Chata! Pensa bem: manhã de segunda-feira e reunião chata combinam? Quem inventou de inventar isso também é chato! Inevitáveis, a manhã de segunda e a reunião? Ué, então pelo menos divide esse conjunto chato em duas coisas chatas. Ficaria menos chato... O relógio grita no meu ouvido. Saio voando, sem café. No portão uma etiqueta azul me diz: sua blusa está pelo avesso. Isso é pressa, gente. Pressa pra chegar a uma reunião chata! E se é chata, não entendo pra que a pressa. O jeito é voltar e desvestir o que estava já vestido.

Um sábio, amigo meu, disse: “Reunião? A gente discote, discote e não dicede nada”. No final marcamos mais uma, pra decidir sobre a próxima. É assim a saga das reuniões... O assunto é pior que pensei. Minha cabeça voa. Busca os ventos frescos do céu azul. Quê isso? Para com isso! Você é profissional. Está em busca de atualizações. O futuro do Brasil depende também de você, esqueceu? “Então, precisamos atingir a meta...”. Que meta? Sobre o quê mesmo? Não dá! Ontem fui a uma festa. E a única meta que eu tinha hoje era dormir um pouco mais...

Ambiente carregado. “Vamos assinar um acordo de metas...”. Ah, não, eu não assino nada! Aprendi que não se deve assinar nada sem ler. E até agora ainda não consegui entender que metas são essas. Na parede, um cartaz: “Feijoada Dançante”. Uma promoção beneficente. Covardia! A imagem deliciosa de uma feijoada! Eu sem café até agora. Está lá a tortura pra quem quiser degustar com os olhos: molho de pimenta, arroz branquinho soltando fumaça, couve, laranja. Caipirinha? Não, isso não tem no cartaz. Mas eu penso. Uma dosezinha? Tá certo que não bebo nada. Mas todo mundo diz que é bom aperitivo em dia de feijoada.

“O acordo tem que seguir hoje ainda...” Ai, o acordo! Meu pensamento divaga. Melhor pensar em feijoada. Uma feijoada dançante é esquisito, não? Os ingredientes todos de braços dados no meio do feijão preto. A música pode ser aquela do Chico “Feijoada Completa”. “E vamos botar água no feijão...”. No ritmo gostoso do sambinha o feijão ia fervendo. Alguém colocando muita lenha no fogão que é pra não esfriar. O bom da feijoada é o calor que dá. Aquele aconchego de comida quente! Feijoada fria... Arghhhh! O inverno vem aí, coisa boa...

Quatro horas de “discote, discote e não dicede nada”. Alguma coisinha acho que “dicediram”. Sem mim, é claro. Uma folha e uma caneta. Vários nomes listados. Interrogo a coordenadora com meu olhar de caipirinha: “O que é isso?”. A cara dela é puro molho de pimenta: “O acordo de metas, pra você assinar!”. Não quero discussões a essa hora. Assino. Assino qualquer acordo que me peçam, neste momento. Tudo está consumado. Escuto bem: “Próxima reunião, amanhã, às 7h”. O tema era denso. Não deu pra ser esgotado. Todo mundo entendeu? Entendeu. Olho o cartaz da feijoada dançante. Conformada, vou pra casa comer umas bolachinhas. Isso não são horas de preparar almoço. Dancei...