A LENDA DO JANGADA

O sol já ia longe quando Manoel erguendo a vista contemplava sertão ainda virgem pouco povoado cuja natureza ainda escondia seus mistérios. Já fadigado enxugava o suor com a barra da manga de sua camisa de algodão cru enquanto seu pensamento vadiava pela esperança de dias melhores. Desde muito cedo já era dado a lida e desde que desembarcara no Brasil procurava pelo honesto trabalho melhorar suas condições. Passara por diversos ofícios e agora mascatear era sua lida. Ao lado de sua mula, companheira das infindas jornadas, trazia de tudo um pouco a vender pelos poucos pousos e ranchos que encontrava em seu caminhar. Naquele dia as vendas não foram como esperava. O dia todo andara sem um negócio feito e o peso do dia já o tirava as energias. Amarrando o animal a árvore cuja copa era tomada por uma espécie de trepadeira fez daquele lugar seu amparo para recarregar as energias e preparar sua ração. No ermo do sertão aquela arvore era abrigo e aconchego a todos os viajantes que por ali passavam. Próximo havia uma mina d`água que refrescava e matava a sede de quem dela se servisse.

Entretido com seus devaneios de mascate aventureiro foi surpreendido pela quebra do silencio por um caboclo que anunciava de forma amistosa sua aproximação. Com a hospitalidade natural dos mineiros o caboclo foi puxando conversa e se afeiçoando a Manoel.

Levara-o para casa e naquela noite trocou a costumeira arvore carramanchona pela intimidade da casa cabocla de seu novo amigo. Depois de tantas prosas e merendas daquelas de encher o espírito e o estomago vão hospede e senhor da casa deitarem após se recomendar à Nossa Senhora e dar graças a Deus pelo dia. Antes de o galo anunciar a manhã e o sol penetrar pela fresta da janela, Manoel e seu hospedeiro ao pé do fogão de lenha, já faziam o desjejum entre uma e outra prosa. No meio da conversa vai Manoel apresentar suas mercadorias ao gentil caboclo no que esse se interessa por um a Capote, jaquetão de couro que naquelas paragens seria de grande serventia nos meses frios do ano.

O coração de Jangada até doeu de vontade de dar o tal capote ao seu novo amigo, mas o preço não era pequeno e ao prestar contas a Loja de São João Del Rei para quem mascateava aquela quantia seria considerável. Porém antes mesmo de Jangada dizer alguma coisa o caboclo já foi fazendo uma oferta para a aquisição da dita jaqueta. Oferecia em troca da mercadoria as terras que Manoel conseguia enxergar da porta de sua cozinha e arredores, justificando que terras tinha muitas e que não conseguia cultiva-las todas e que seria de grande estima tê-lo com vizinho.

A esta oferta não exitou Manoel em fechar o negócio. Deixando o capote, seu amigo e sua choupana foi Manoel de volta à loja na cidade de São João Del Rei prestar contas com seu patrão. Ao ter conhecimento do negócio, o dono da loja disse-lhe em tom áspero: “Eu queria dinheiro corrente e não terras em pagamento, si terras há muitas e tão desvalorizadas.” À tamanha contrariedade de seu patrão, Manoel preferiu abandoná-lo, pagando-lhe o valor do dito capote e apossou-se das terras que recebera em troca onde no jeito e na cor ergueu seu rancho, cultivou a terra, semeou o milho, semeou os filhos, semeou o amor.

Gleisson Melo
Enviado por Gleisson Melo em 26/04/2010
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