As escolhas da vida

Esther Ribeiro Gomes

Meus pais se separaram quando eu tinha apenas um ano de vida.

Fui criada pela minha mãe que desempenhou muito bem seu duplo papel.

Meu pai casou-se novamente e foi morar em Nova York, nos Estados Unidos, onde teve mais quatro filhos: Gabriel (Gaby), Nina, João Luiz Jr.(Lui) e Michael.

Quando completei vinte anos, já cursando a faculdade de Direito e namorando firme (como se dizia naquela época), meu pai me convidou para viajar com ele e conhecer sua nova família.

Minha mãe não queria deixar de jeito nenhum (tinha receio que eu não voltasse), mas qual a jovem que não gostaria de passear nos Estados Unidos?

Insisti e ela acabou deixando, desde que levasse minha prima Leda.

Então, no início de julho de 1967, ele veio nos buscar e primeiramente passamos uma semana no Rio, cidade onde nasci mas ainda não conhecia, pois saí de lá muito pequena.

Foi maravilhoso, ele nos levou ao Pão de Açúcar, ao Cristo Redentor e outros passeios inesquecíveis. Enfim, revi minha linda cidade natal.

Meu pai João Luiz e Odarka, sua esposa ucraniana, trabalhavam no aeroporto Kennedy e quando lá chegamos ela estava nos esperando juntamente com meus meio-irmãos americanos que ainda não conhecia.

Fomos então para sua casa em Bethpage (Long Island), onde ficamos um mês. Eu falava inglês razoavelmente, pois tinha cursado a Cultura Inglesa por oito anos.

Minha prima não falava nada e se atrapalhava muito, principalmente quando atendia ao telefone. Era muito engraçado, porque respondia em português, como se estivesse no Brasil.

Uma vez estávamos na praia e um rapaz chegou bravo, dizendo que ela não tinha ido ao encontro que marcaram no dia anterior. Quando perguntei a ela o porquê, ficou admirada e disse que não tinha marcado nada, que o rapaz falava e ela ia dizendo: Yes, yes...

Certa vez, fiz spaguetti a bolonhesa e quando ia colocar o molho, meu irmão Michael (que na época tinha oito anos), disse que queria apenas a massa, com açúcar!

Meu pai, como todo gaúcho, adorava um bom churrasco e como lá a carne bovina é muito cara, o churrasco era de hambúrguer (que os americanos adoram), mas para ele, sempre havia um bom pedaço de carne suculenta...

Um dia, ele nos levou para o Canadá, na ‘Expo/67’, em Montreal, foi divertidíssimo.

Na volta, conhecemos ‘Niagara Falls’, as mais famosas cachoeiras da América do Norte que ficam na divisa entre Canadá e Estados Unidos, a exemplo das Cataratas do Iguaçu que ficam entre Brasil e Argentina.

Fomos também conhecer Washington, a bela capital americana, onde fizemos muitos passeios e conhecemos a famosa ‘Casa Branca’.

Um dia meu pai deu uma festinha para me apresentar aos amigos e pude perceber que lá as mulheres mandam mesmo, o ‘matriarcado’ impera! Quando alguma delas queria ir embora, levantava-se e dizia: ‘John, let´s go!’! Ai dele se não obedecia... Por isso dizem que os americanos que se divorciam muito, vão à falência!

Uma vez por semana, íamos à pizzaria do Bill, que se interessou por mim. Quando lá chegávamos, ele começava a se exibir, levantando o braço e rodando a massa no alto, sempre sorridente.

Meu pai dizia para eu me casar com o Bill e ficar morando por lá.

Se eu seguisse seu conselho, teria outra história para contar...

São as escolhas da vida...

Devemos nos arrepender apenas daquilo que não fizemos.

Afinal, como disse o poeta:

‘Tudo vale a pena, se a alma não é pequena’!

Esther Ribeiro Gomes
Enviado por Esther Ribeiro Gomes em 28/04/2010
Reeditado em 29/04/2010
Código do texto: T2225197