A mulher e o poder

A beleza está nas diferenças. Os olhares, os jeitos, os pensamentos, os corpos, os métodos, os desejos, os sentimentos, os andares, os anseios, os gostos, os métodos, os sonhos, as escritas, as falas, as dores, as maneiras diferentes, contrárias... Eis aí a beleza da vida: a diversidade. O mundo seria muito chato se fôssemos todos iguais.

Desde que tive notícia das primeiras lutas das mulheres e no final do século vinte, feito um grão de areia, participei de algumas. Ironicamente, pensava que iria acontecer apenas uma troca de comando, mas imaginando, esperançoso, que era uma luta justa, sincera por liberdade, igualdade na diversidade, divisão de poder, libertação de tantos milênios de opressão.

A mulher florescendo, buscando seus caminhos, ocupando espaços, soltando a voz, se libertando, tão aprisionada que estava nos lares, nas ruas, quartos, no tanque e no fogão... Tão violentada emocional e fisicamente.

Pensei que aquela que tece outras vidas dentro de sua própria vida, que entrega ao mundo novos seres e cuida com amor de outras vidas fosse agir diferente. Quando assumisse cargos, funções, poderes, enfim, o comando, iria criar uma nova forma de poder, bem diferente do poder masculino. Dos lares aos palácios de governo, o que sinto é a reprodução do autoritarismo, da dureza, abandonando a sensibilidade e a ternura. Imaginei que quando as mulheres assumissem poderes tratariam os problemas e as adversidades com a firmeza doce, com o poder da delicadeza. Que comandasse com espírito maternal e destruísse o poder masculino com grandeza de espírito.

No entanto, a mulher está reproduzindo o que de pior existe no homem, o que de mais feio existe nos machos. Começando pelo vestuário, quase se parecem com os homens, com seus taillers e blasers, tão sóbrios, até mesmo nas cores insípidas, imitando os paletós dos homens. Por que não os vestidos e as saias estampadas, cheias de cores? Até gravata, algumas andam usando, este acessório inútil e horrível.

O andar pesado e não mais aquele deslizar tranqüilo e infalível. Os olhares duros, e por trás da face rígida uma tristeza inconfessável. As expressões severas, com testas enrugadas e sobrancelhas unidas, lábios apertados sempre com um ar de ironia e um certo cinismo. Onde foram parar a sutileza e o encanto? E os olhares frios, distantes escondendo a fragilidade, os medos. As inseguranças disfarçadas em gritos.

E nos lares, então, com o poder do macho tacanho decidindo tudo, sem ao menos ouvir a mulher, com a velha idéia de quem sustenta a casa escolhe a melodia, muitas vezes humilhando e violentando corpos e almas. Agora, com a queda, felizmente, do ¨cabeça de família¨, muitas mulheres assumem este papel e se tornam uns ¨maridos de saia” agressivas e hostis, tratando o homem como subalterno.

Não quero acreditar que tanta luta e sofrimento tenham acontecido para que tudo ficasse do mesmo jeito. Que as mulheres queriam isto, apenas substituir o homem, que a forma de comandar seria a mesma.

Sonhei que as mulheres inventassem uma outra maneira de comandar, coordenar, encaminhar a vida com gestos mais fraternos e solidários. Mas parece que a máxima do Che Guevara, “hay que endurecerse, sin perder la ternura jamás¨, não vingou. Antes as mulheres gritavam de dor, agora gritam para mandar, determinar, decidir...

Em alguns momentos ouço as palavras e pensamentos dos homens serem pronunciadas nas bocas femininas, com a mesma rigidez e grossura. Longe de mim querer as mulheres submissas e servis, mas mano a mano, lado a lado, cara a cara.

A mulher, este ser pleno e grandioso, tem que buscar um outro rumo para a vida, afinal ela constrói a vida. Tenho certeza que o mundo seria bem melhor comandado por mulheres, claro, com o coração.

dori carvalho
Enviado por dori carvalho em 29/04/2010
Reeditado em 14/05/2010
Código do texto: T2226829
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