Obrigada pelos dons que recebi 
      
O fato de estudar inglês não significa que um dia eu vá conseguir falar inglês.  Vou à aula, duas ou três vezes por semana. Até que não sou muito ruim quando é a vez de ler em inglês. Mas falar e ouvir realmente foge ao meu controle. Mas continuo indo a aula e me divertindo. Desde que eu não precise fazer o dever de casa. Penso que o meu problema com inglês é o mesmo que tenho com a música – embora minha mente funcione direitinho para a música, quando chega a hora de cantar eu fico muda. Não tenho ouvido musical. E isso é mais trágico porque meu pai era músico, todos os seus irmãos eram músicos e meu avô, além de tocar, compunha e era maestro e professor de vários instrumentos. O DNA paterno falhou nesse quesito e nem eu nem meus irmãos damos conta de cantar ou tocar.
 
Tudo isso vem a respeito da aula de inglês que tive hoje, ouvindo a canção Thank you for the music – um antigo sucesso do grupo ABBA. A letra maravilhosa inspirou-me a escrever esse texto. Chegando em casa busquei na internet para ouvi-la e o fiz na voz de Amanda Seyfried. A canção é um agradecimento pelo talento recebido - o talento de cantar: “everyone listens when I start to sing.

Uma texto bíblico que sempre me impressionou é aquele que fala dos talentos. Servos recebem de seu Senhor alguns talentos enquanto ele sai em viagem. Deu a cada um, quantia diferente conforme a sua capacidade. Quem recebeu cinco, negociou e os duplicou. Quem recebeu dois, fez a mesma coisa. Mas quem recebeu um, fez um buraco no solo e o enterrou para que ficasse bem guardado. No final da história ele espinafrou aquele que não duplicou  o que lhe havia sido confiado e louvou os outros. Cresci então pensando que aquilo que a gente recebe para cuidar tem que duplicar, principalmente pensando, não na questão de talento como dinheiro, mas sim em talento como qualificação para a vida.

E assim vira e mexe eu fico pensando nas boas qualidades que recebi como herança genética e o que fiz com elas e na verdade não fico muito satisfeita comigo. Não me sinto como tendo enterrado meus talentos, mas tenho absoluta certeza de que não os multipliquei em quantidade suficiente. E essa canção mexeu comigo levando-me a pensar que pelo menos eu deveria ser grata pelo que recebi e não ficar me lamentando pelos que não recebi – eu queria mesmo era saber cantar com uma voz tão melodiosa que até os pássaros parassem para ouvir. No entanto só consigo cantar em grupo, quando outros estão cantando e conduzindo o espetáculo. E lá fico eu, escondidinha, pequenininha, cantando bem baixinho.

Mas eu tenho talentos. Todos nós temos talentos. Recebemos Daquele que distribui, de acordo com Seus propósitos. Para alguns é dado o talento musical e esse é um talento invejável. Mas não é invejável ter inveja. Invejável é ter a capacidade de reconhecer seu próprio talento e conseguir multiplicá-lo em quantidade e qualidade.

Em um determinado momento da canção eu ouvi: “ I ask in all honesty, what would life be? Whitout a song or a dance what are we? “ – A canção pergunta o que seria a vida sem uma canção ou uma dança, e então eu perguntei: o que seria de mim sem o que? Que coisa faria tanta falta em minha vida que eu não saberia viver sem ela?

Não é difícil responder. Eu não saberia viver sem escrever. Eu não saberia viver sem educar. Eu não saberia viver sem comunicar. Eu não saberia viver sem criar. Então eu digo: Obrigada pelos dons que recebi e obrigada ainda por estar esticando a minha vida para que eu possa duplicar esses dons.