O amor não tem idade

Esther Ribeiro Gomes

Minha tia-avó Mazé tinha duas filhas: Neide e Leoni.

Tia Mazé foi muito infeliz no casamento e não queria que as filhas

se casassem, tinha receio que elas sofressem.

Lembro-me dela, velhinha, em sua cadeira de balanço me dizendo:

- Minha filha, esta vida é um conto do vigário...

Sua filha Leoni, mais independente, bateu o pé e casou-se com quarenta anos, mas teve que ficar morando com a mãe.

Neide era mais meiga e não queria magoar a mãe.

Namorou o italiano Vitor durante vinte anos.

Era daqueles namoros de antigamente, sempre com tia Mazé por perto.

Um dia o italiano teve um infarto fulminante e minha prima ficou sem o namorado de tantos anos que, em vão, tentara se casar com ela.

Neide nadava como um peixe. Quando eu era pequenina ela me levava para vê-la fazer suas peripécias na água e eu voltava, dizendo:

- Tia Neide fez ‘tibum’ na piscina!

Ela tinha grandes olhos azuis e brincava muito comigo, rolávamos no chão e dávamos boas risadas. Era minha prima preferida!

Neide já estava com quarenta e cinco anos quando conheceu Pedrinho no Clube Palmeiras, onde ia praticar natação.

Ele era oito anos mais novo que ela, mas isso não impediu que se apaixonassem.

Desta vez, Neide enfrentou tia Mazé e casou-se, feliz da vida, aos cinquenta anos!

Viveram muito bem, até o falecimento dela, aos oitenta e quatro anos.

Pedrinho ficou viúvo aos setenta e seis anos e a amava tanto que a vida não tinha mais sentido para ele. Faleceu dois anos depois.

Eu sempre gostei de homens mais velhos: meu primeiro marido tinha quinze anos mais que eu e o segundo era vinte anos mais velho.

Para ser feliz não importa a idade, minha prima viveu trinta e quatro anos com seu marido mais jovem e foram sempre apaixonados!

A grande escritora Agatha Christie (li quase todos os livros dela), era casada com um militar bem mais velho que ela e foi muito infeliz.

Ele tinha um temperamento difícil e ainda a traía com a secretária.

Desgostosa, deixou o marido e viajou incógnita para a cidade de Harrogate, onde se hospedou num hotel com nome falso.

Ficou desaparecida por doze dias, provocando suspense como em seus romances.

Algum tempo depois, durante uma expedição arqueológica, conheceu Max Mallowan, arqueólogo catorze anos mais novo que ela e se casou novamente. Viveu feliz com o jovem marido até seu falecimento aos oitenta e cinco anos de idade.

Viajou com ele por todo o Oriente Médio, que serviu de inspiração para vários dos seus romances de suspense.

Quando completou oitenta anos, disse numa entrevista a um repórter londrino que a vantagem de ser casada com um arqueólogo

era que, quanto mais velha ela ficava, mais ele gostava...

Agatha Christie foi para mim a melhor escritora de suspense de todos os tempos, cujos livros eu ‘devorava’ sem parar, principalmente

quando o protagonista era o detetive belga Hercule Poirot, figura impagável com suas manias bizarras e grande perspicácia.

Ela teve vários livros adaptados para o cinema, como o excelente ‘Assassinato no Expresso do Oriente’.

Recebeu da rainha da Inglaterra o título de ‘Dama da Ordem do Império Britânico’, cinco anos antes de sua morte, em 1976.

Agatha Christie e minha prima Neide foram grandes mulheres, uma famosa e outra anônima, que souberam cativar homens bem mais

jovens, demonstrando que a idade nunca foi empecilho para viver um grande amor!

Esther Ribeiro Gomes
Enviado por Esther Ribeiro Gomes em 01/05/2010
Reeditado em 02/05/2010
Código do texto: T2230895