Beethoven e Mozart contra a mediocridade
Nas viagens sempre fantásticas pelo cinema, revejo uma pérola e descubro outra. “Amadeus”, de 1984 e “O segredo de Beethoven”,de 86. Nos dois gênios, a busca pelo sublime, o toque divino. A “irreverência” de Mozart e a “surda obsessão” de Beethoven na eterna luta contra a mediocridade.
Não sou daqueles que têm a suavidade na alma para ficar ouvindo diariamente os clássicos, eruditos, mas gosto de ouvir, acho bonito. Penso que é o que de mais belo já foi feito pela raça humana.
Vendo estes dois monstros sagrados, não penso, não racionalizo nada, mas sinto verdadeiramente o que é a grandeza da arte, o que é o trabalho do artista. A guerra entre o sublime e a mediocridade. A loucura criativa, a guerra interna, os espíritos alucinados. O inconformismo, o talento, o caminho para as estrelas, a alma humana, para o criador, os céus, tocar o coração do homem. Eles tinham absoluta certeza de que com suas músicas se aproximavam de Deus ou, ainda, que Deus falava através de suas sinfonias.
Passam os séculos e eles estão aí com suas sinfonias, presentes em nossas vidas, nos salvando da mesquinharia. O Mozart perseguido por um Salieri cheio de inveja e adoração ou Beethoven atacado pela surdez e vencendo a luta com as vísceras e a mente inquieta. Os medíocres latem e a orquestra passa. A nona nos livra deste quinto dos infernos e a quinta eleva nossos espíritos além da pobreza musical.
Fico imaginando o que foi que aconteceu com a gente. Por que nunca mais aconteceu nada de tão criativo. Onde foi que nos perdemos? Por que a humanidade consegue inventar as máquinas mais grandiosas com avanços tecnológicos imensos, descobertas medicinais inimagináveis e o espírito humano voltando cada dia mais para a era das cavernas. E a sua maior expressão, a arte, descendo a ribanceira da decadência.
Seria tão bonito, ouvir Bach, Liszt, Wagner, Vivaldi, Beethoven, Mozart, Carlos Gomes, Villa-Lobos, nas fábricas, praças, nos parques,ônibus, teminais ou, mesmo, em casa, na hora do amor, contra o barulho urbano, a tensão do trânsito insano, as lutas do dia-a-dia, além de acalmar os nossos nervos, elevaria nossos espíritos. E para não dizer que os artistas estão sempre distantes da realidade, seria uma grande contribuição para o aumento da produção e a tranqüilidade no trabalho. É, terapia musical. Assim como nos hospitais usam verde e azul claros para acalmar os pacientes. Já que vivemos num circo sem cobertura e num hospício sem muros, ouvindo estes mestres, seríamos bem mais calmos e felizes.