Cabelos no pente...

Amanheceu... um dia de sol depois de uma madrugada fria, aconchegante, mas mamãe não teve tempo de curtir o friozinho, no dia anterior, ao tomar banho à noite, foi pentear seus cabelos prateados...sentiu uma pontada forte no coração, o pente enchera-se de cabelos...perdeu o sono, já se imaginava careca, será que ficaria sem nada de cabelo? Uma angústia tomou conta do seu ser, pediu a Deus força e coragem para encarar mais essa etapa. De manhã preferiu ficar calada, ela, eu, minha irmã e Pedro íamos sair cedo para um passeio rumo ao litoral, não queria estragar o dia com seus problemas, assim pensou.

Tomamos café em meio às risadas, ela então começou a ensaiar uma dança pela sala...queria espantar o medo, assoviava e dançava de forma frenética, sai a seu encontro sorrindo, ela então parou como a refletir no que estava acontecendo, e, chorando, disse: “Meus cabelos estão caindo, vou ficar sem nada...vou ficar feia...” Senti a dor desesperada de minha mãe mas falei palavras reconfortantes. “ Mãe, o médico disse que tudo isso iria acontecer, a senhora conseguiu ganhar 45 dias sem nada diferente ocorrer, a quimioterapia faz isso, debilita, enfraquece os cabelos...a senhora está com sorte, custou a aparecer qualquer efeito colateral”. Ela então disse: - Bem, quando cair um pouco mais, vou cortar bem curtinho, logo, logo ele crescerá de novo, não é? Concordei, beijei a minha mãe e fui para o quarto me recompor, precisávamos sair, o dia prometia ser maravilhoso, íamos tomar banho de cachoeira lá em Conceição de Jacareí.

E assim fomos viver os momentos prazerosos, a vida continua, não dá para se desesperar porque o câncer hoje faz parte do nosso dia-a-dia.

Ser feliz, é melhor que se entregar ao medo de que vamos morrer,isso é uma realidade para todos. "Ser feliz", é opção de vida, mesmo que em certos momentos, o "estar feliz" não seja a maior verdade.

Mamãe! Amo-te!

Salmo 23:4

Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo: a tua vara e o teu cajado me consolam”.(Salmo 23.4)