Mas com diploma
Havia um tempo, e não faz tanto tempo assim, em que o portador de qualquer diploma universitário era chamado de doutor. Indevidamente, mas era. Há um tempo, e isso faz quase 2.500 anos, que Platão formou sua Academia – na realidade, grupo de discípulos – para difundir e debater suas ideias. Outros filósofos seguiram a mesma linha e, já no Século II havia universidades famosas no Oriente, sempre com forte cunho filosófico e teológico. No Ocidente, surgiram mais tarde, estudando teologia, retórica, filosofia, matemática.
No exercício do debate e na análise de ideias, portanto, está a origem da universidade, que, de resto, vem de universalidade, como está escancarado e, muitas vezes, esquecido.
A profusão de cursos, especialmente dos de pós graduação, chutaram o tratamento cerimonioso para o escanteio e tiraram a aura dos diplomas. Isso foi bom, sem dúvida, mas criou um problemão: os diplomas de currículo; ter curso superior é uma exigência de mercado, façamos um curso superior, o aprendizado fica em segundo plano. Não creio que precise dizer que não é regra inquebrantável, mas que grassa, grassa (ô povo, graça é outra coisa).
Por maiores que sejam as oportunidades e condições de pesquisa séria, que causa debate, inquietação e aprendizado, como era na origem, o ctrl c e o ctrl v ainda são os maiores aliados da maioria; por mais eventos sociais, culturais etc. que as universidades promovam, o “sertanejo universitário” (inventam de tudo para enganar a galera) ainda é um programa intelectual de altíssima adesão; por mais criatividade que os professores usem, o mastigadinho e a falta de comprometimento real são o que busca todo um universo para quem o mínimo necessário em presença e nota é o suficiente.
Cadê o debate? Cadê o caldeirão de sabedoria? Cadê a inquietação da pesquisa em busca do saber? Cadê o orgulho do conhecimento e da utilização dele? Para muitos (ufa!) são a razão de estarem ali; para outros, foram substituídos pelo canudo e pela menção no currículo. Esses nunca serão doutores.