UM HOMEM

(Escrito em 07/03/2005)

Não o conheci ainda menino pobre “pau de arara”, mas o imagino como era, igual aos que vi perambulando pela cidade, descalços, nariz escorrendo, com pouca roupa, tiritando de frio na garoa de São Paulo, com uma caixa de engraxate na mão ou com uma flanela limpando “para brisas”. Indo à escola com uns poucos cadernos, roupas gastas, sapatos furados, mas nos olhos brilhando uma vontade imensa de aprender.

Já o conheci jovem homem, trabalhador, com sonho de justiça em um país injusto.

Homem honesto, sindicalista denodado, lutando por sua classe, líder nato, arrebatando multidões com seus discursos inflamados e seu exemplo de tenacidade e luta.

Contra a pressão da Ditadura Militar, arriscou a própria vida e a liberdade, e, como muitos outros, não se omitiu.

Vem a carreira política, a fundação do Partido dos Trabalhadores, a oposição a tudo que fosse criado em prejuízo da classe trabalhadora.

Acredito que o menino pobre, o jovem trabalhador, não pensava em chegar a Presidente de seu país. Talvez esse pensamento tenha surgido depois da mal fadada Ditadura Militar que tanto dano causou ao nosso país.

Lógico que suas intenções eram as melhores possíveis e que em seu coração de homem simples e honesto seria muito fácil fazer o melhor pelo seu povo sofrido. Mas a política é cruel, os interesses do capital sufocam e arrasam com tudo que não lhes traga lucro. Os políticos acostumados, desde o tempo do império, a levar vantagem e só pugnarem pelos seus próprios interesses, barram toda iniciativa que contrariem seus propósitos.

Menino pobre nordestino, você aprendeu muita coisa nesta vida, mas não aprendeu que na política não se fala com o coração nem com os sentimentos mais puros . Eles devem ficar bem guardados nos arquétipos de sua consciência, para que não venham à tona, causando dissabores na trajetória da vida que você escolheu, talvez sem pensar que seria mais árdua do que a vida do menino pobre da seca do Nordeste.

Ainda assim, confio em você, menino pobre, que se fez homem puro e honesto e apesar de todos os acertos e desacertos de sua vida política, ainda conserva a doçura e a bondade ingênua do jovem torneiro mecânico. Você que não freqüentou universidades, não fez pós graduação nas Sorbones e nas Hawards da vida, mas que é um exemplo para o mundo, de tenacidade e de vontade de vencer.

Se está sendo, ou será um bom político, eu não sei e somente a História o dirá um dia. Mas de uma coisa estou certa: você é um homem especial.

Lucilia Cavalcanti
Enviado por Lucilia Cavalcanti em 03/05/2010
Código do texto: T2235141
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