MULHER, A INJUSTIÇA CONTINUA

Tenho acompanhado o empenho da mulher brasileira, na busca do espaço sócio cultural, econômico e político, que lhe é devido há muito tempo.

Ao longo dos anos a mulher tem sido discriminada, de modo amplo e irrestrito. Quando se trata de visão econômica no sentido profissional, elas são mal remuneradas em comparação com os profissionais do sexo masculino.

Conforme informação do Relatório sobre o Desenvolvimento Humano no Brasil, o trabalho da mulher ainda é pouco valorizado em comparação com o trabalho do homem e, ainda mais quando se compara os salários atribuídos a um e ao outro. Equiparando os ganhos, a remuneração da mulher equivale aproximadamente a 65% do salário dos homens.

Em geral as mulheres ocupam predominantemente funções de baixo salário e baixo prestigio.

Nos anos sessenta houve um impulso feminista, que culminou com novas conquistas desse movimento, em todas as áreas da sociedade brasileira.

As moças que foram sempre bem comportadas já começavam a abandonar as saias rodadas de Dior e atacavam de calças cigarette, num prenúncio de liberdade. Os anos 60 podem dizer que foi uma explosão de juventude em todos os aspectos.

A partir dessa década, acompanhamos o surgimento de uma nova visão sobre o universo feminino. “Com o advento da pílula anticoncepcional, tabus foram quebrados e o valor conceitual de 'liberdade' foi definitivamente instituído”. A mulher passou a ter escolha. Um primeiro passo, para a igualdade entre os sexos e a busca do equilíbrio pessoal, social e profissional.

No campo da moda, o destaque dos anos 60 foi, com absoluta certeza, a mini-saia. “A inglesa Mary Quant divide com o francês André Courrèges sua criação”. Entretanto, nas palavras da própria Mary Quant: "A idéia da mini-saia não é minha, nem de Courrèges. Foi a rua que a inventou".

E viva os anos 60! Sem os acontecimentos dos anos sessentas, certamente, as mulheres não estariam hoje onde estão. “Ou ainda estariam a ler as revistas das Moças, a época, e se deliciando com o papel de mãe-esposa-rainha-do-lar. Sem a revolução sexual, sem a pílula anticoncepcional, sem a abertura da universidade para mulheres”.

Mas apesar de todas as conquistas, ainda é muito pouco o que as mulheres brasileiras conquistaram. É preciso mais. Muito mais.

Porém não nos enganemos. Nunca foi fácil para a mulher brasileira galgar um simples degrau na escalada desenvolvimentista dessa sociedade, formada por base religiosa e, por conseguinte, preconceituosa.

A mulher brasileira, através de suas células familiares era preparada para o casamento. Na família o filho do sexo masculino, era orientado para o trabalho, fosse no campo ou na cidade. Era o macho. Ele no futuro seria o chefe. O cabeça da família. Por isso precisava ter um oficio, ser um técnico, um engenheiro, um médico etc.

A mulher, porém, era preparada para casar. Aprendia a bordar, aprendia a cozinhar e quando muito a tocar piano. Aprendia a tocar para o deleite do marido, enquanto esse descansava do almoço, ou para apresentações em jantares entre famílias, se essas tivessem posses.

É notório o conhecimento de frases absurdas como esta: “homem se prende pela barriga”, dizia as mães e amigas à “deslumbrada” filha. Essa vivia a sonhar com um príncipe encantado, vindo resgatá-la em seu cavalo branco.

Essa cultura atrasou e muito a liberdade competitiva da mulher brasileira nos diversos campos: sócios econômicos e político em que a mulher deve e pode atuar.

É claro que nesse ínterim, surgiam muitas mulheres futuristas, que incentivavam suas filhas a estudarem, a buscarem a independência que ela, a mãe, não conseguiu para si. - O casamento, elas falavam, virá depois, - primeiro conquistem a liberdade. Faziam isso, mesmo tendo que enfrentar a desaprovação do marido. Geralmente os pais diziam: - filha minha não precisa estudar, precisa aprender a bordar e cozinhar para servir ao esposo, cuidar da casa e dos filhos.

A essas mulheres eu lhes digo: Deus as abençoe onde quer que vocês estejam e que seja hoje e sempre um marco na liberdade da mulher brasileira.

Por que da injustiça continua? Porque a mulher continua sendo discriminada. Se esta for de cor negra, tiver poucos anos de estudos, sofrerá muito mais preconceitos.

Infelizmente nesse país gigante que é o Brasil, os governantes não aprenderam a olhar com bons olhos, a diminuída, não irrisória, liberdade conseguida pelas mulheres. Mas que não restem dúvidas, elas vão chegar lá. Doa a quem doer. É uma questão de tempo. Ao facultar-lhes as oportunidades, por certo hão de fazer bem mais do que os marmanjos que hoje, ai estão. Creio eu, novos tempos virão, não só para a mulher, mas para o homem também. E assim, a sociedade brasileira viverá em paz, sem distinção de sexo e cor. Simplesmente: O Ser Humano Brasileiríssimo.

Rio, 02/05/2010

Feitosa dos Santos