Viva Che

Nos anos 60 as professoras de educação moral e cívica ou organização social política do Brasil, as tenebrosas EMC e OSPB, preparadas por algum coronel de plantão, nos ensinavam a decorar datas e generais e quase nos obrigavam a ler a revista Veja, na época, um grande porta-voz da ditadura militar que tecia mil elogios ao general Médici, num dos períodos mais sanguinários dos anos de chumbo, quando a tortura era o método mais usado para arrancar informações. Meus irmãos sendo presos e torturados, eu vi as marcas, ninguém me contou. Portanto, não dá pra confiar nesta revista. Em suas páginas, o Brasil era uma ilha da fantasia com milagres e tudo mais.

Quarenta anos depois, a veja, continua a mesma. Agora, pela escrita destes dois “jornalistas”, que jamais seriam conhecidos falando bem de alguém, usando adjetivos como quem troca de roupa – de verdade, adjetivos não servem pra nada. Nos ensinou Drummond: se tiver cem adjetivos e um substantivo, fique com o substantivo. Já imaginaram, fazer uma reportagem enaltecendo alguém? Não dá lucro, não rende fama. Então, vamos desancar, inventar, matar novamente aquele que ainda é a maior e última referência para aqueles que sonham em mudar o mundo. Ernesto Guevara, o Che. Os dois, depois de quarenta anos da execução do líder revolucionário, desrespeitam completamente as regras básicas do jornalismo.

É evidente que as lendas são criadas: os desenhos retratando Jesus “barrocamente”, Tiradentes “cristianizado” e a foto do Che parecendo um Cristo, são provas das distorções, mas, a partir daí, sair desmentindo verdades e validando mentiras são outros quinhentos.

Vamos à história, vamos dissecar este amontoado de invenções. De onde tiraram a idéia de que a frase, que ninguém pode aceitar como verdade, pois foi contada por um dos algozes da CIA, “Não disparem. Sou Che. Valho mais vivo do que morto.” Seria um “pedido de misericórdia, o apelo desesperado pela própria vida e o reconhecimento sem disfarce da derrota...”? Qualquer um, até mesmo os heróis, tentam preservar sua vida. Exemplo disso é o Galileu abjurando pra não ser levado à fogueira da inquisição. E acreditar nas frases só porque vieram das mesmas fontes, os executores?

Qual o problema do Che ser chamado de “el chancho”, o porco, por não gostar de tomar banho, principalmente nas condições em que viviam na guerrilha?

Quem disse que “o homem de carne e osso, com suas fraquezas, sua maníaca necessidade de matar pessoas... e a busca incessante da morte gloriosa, foi um ser desprezível.”? Que provas? Será que é desprezível um homem lutar por seus ideais, querer construir um mundo mais justo, mais igualitário. E, ora, senhores, ninguém faz omeletes sem quebrar ovos. Queriam o quê, que os asseclas do ditador Fulgêncio Batista fossem tratados como inocentes e puros. Que rancor é este (jornalismo?) em dizer que Che “tem seu lugar assegurado na lata de lixo da história?

Quanto ao dia de sua morte. Até hoje correm pelo mundo várias versões, inclusive a de que ele teria sido morto no momento em que foi capturado, por isso, as homenagens sempre no dia 8 de outubro. Ele não “era um apologista da violência”, o problema é que ninguém faz revolução sem violência.

Ninguém tem a menor idéia de porque a sua fotografia foi parar no braço do Maradona, na barriga do Mike Tysson ou no biquíni da Gisele Bündchen... é o mundo que estes dois “repórteres” defendem, o mundo do capitalismo selvagem e do consumismo que vende até fotos dos seus inimigos em troca de lucro. O problema deles é que nem cem matérias inverídicas tirarão a imagem do revolucionário dos corações dos meninos e meninas do mundo.

Che nunca foi filho de esquerdistas ricos argentinos, era apenas uma família classe média.

Que critérios esses garotos usaram para definir este rebelde como “narcisista suicida”? Os seus espelhos?

Qual o problema de ser “aferrado com unhas e dentes” aos seus princípios. Eles sempre disseram, em Cuba, “negociamos tudo, menos os princípios”. Pra gente que negocia até a mãe, isso dói. E os escrevinhadores “confessam” que preferiram ouvir os cubanos que vivem em Miami, porque têm “maior credibilidade” e não os cubanos em Cuba com “a cinzenta ladainha oficial”. Que imparcialidade! Esses meninos realmente têm parâmetros bem pequenos para suas vidas, por isso, analisam a vida dos outros com olhos tão embaçados. Chegam a dizer que a frase “há que endurecer-se, mas sem perder a ternura jamais” talvez não fosse dele. Talvez? Isso é jornalismo?

As intenções por trás desta “reportagem” chegam a dar nojo. Estão preocupados em descobrir que fatores de mídia fizeram o mito Guevara: “a morte prematura”, “a limpeza” que os militares teriam feito em seu corpo e porque morreu nos rebeldes anos 60. Quanta bobagem. Che foi transformado em mito porque era, segundo ele mesmo, “ um aventureiro sim, mas dos que arriscam a própria pele para defender suas verdades”, porque foi morto, aos 39 anos, lutando por seus ideais. Coisa rara, hoje em dia, neste mundo de mercenários.

Che Guevara continua vivo em nossos corações e em cada menino rebelde lutando contra as injustiças.

dori carvalho
Enviado por dori carvalho em 06/05/2010
Reeditado em 14/05/2010
Código do texto: T2241316
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