O SENHOR ESTÚPIDO E A DONA ALIENADA

     Estes dias entrei numa van, transporte coletivo da cidade de São Paulo, por si só já é apertada, pois tem filas de duas cadeiras de cada lado e um corredor estreito no meio para circulação dos passageiros. Quando está cheia, com gente em pé no corredor é impossível não esbarrarmos e empurrarmos uns aos outros, acompanhado com os contínuos pedidos de desculpas e com licença.

     Naquele dia, assim que passei a catraca olhei e vi um casal, rapaz e moça, sentados na terceira fileira, distintos, bonitos, aparência de quem sairam do banho, ele voltado para ela inteiramente, costas para o corredor, com o braço esquerdo sobre as cadeiras da frente, parecia que a estava protegendo contra intrusos, (parecia uma galinha protegendo os filhotes debaixo das asas, desculpas às galinhas, pela mal comparação). 

     Quando os examinei, rapidamente, senti um carinho pelo dois, estavam comportados, asseados, pareciam ser bem educados, civilizados. (Acho que estou entrando na fase do “pai de todos”, sentimento que a gente cria depois de uma certa idade, quando começamos a achar que poderia ser pai de todos os de menor idade que a nossa). Como eu ia descer logo, então tratei de ir em direção à porta dos fundos da van, pedindo passagem, com os costumeiros por favor, desculpa. Ao passar por aquele jovem, lógica e forçadamente, não foi uma passagem fácil devido as condições, tivemos que nos esbarrar um no outro, coisa leve, pedi desculpas e, ele reagiu, para minha surpresa, xingando-me. Voltei-me, e novamente pedi:

---- Desculpas, meu amigo.

     Aí o caldo entornou. O rapaz levantou-se furioso, praguejando:

---- Amigo uma ova, você não é meu amigo......, vá ......

     Quando o rapaz levantou-se percebi, literalmete, o tamanho da sua estupidez. Tinha mais de um metro e oitenta, mal alcançava o ombro dele. Nem meus cabelos brancos, nem o meu tamanho, foram motivos para fazer ele recuar. Creio que se eu tivesse dito mais alguma coisa, poderia ter levado uns safanões ali. Contive-me e sorri para ele, fui caminhando para os fundos. Não abri mais a boca.
 
     Olhei para os demais passageiros, o olhar deles era de estupefação e surpresa, mas não disseram nada. 

     Quando cheguei à porta dos fundos da van, fiquei observando melhor aquele casal, o rapaz, continuou xingando todos aqueles que esbarravam nele e a moça continuou com aquela cara de eterna felicidade, uma cara que às vezes encontramos na face de certos namorados, alienação pura, que está como que a dizer: “nada importa, a não ser o amor que sinto por meu amor”. 

     Fiquei pensando, eles se merecem. Um é o Senhor Estúpido, em pessoa, e a outra é a Dona Alienada, passividade em pessoa. 

     O que restou dos meus sentimentos em relação a eles? Dó, pena. Se realmente fossem meus filhos, teria dado umas bengaladas (se usasse) nas suas cabeças, para dar-lhes juízo.