INFIDELIDADE

A situação abordada no enredo da novela que estreou na telinha mágica provoca (e é essa a intenção) nos telespectadores as mais variadas reações.

A protagonista sofre o impacto da descoberta de uma traição. O seu afeto foi vilipendiado, amassado como folha de papel rasurada e jogado numa cesta de lixo. Muitas sensações e emoções se misturam, nesse momento, dentro dela. E sob a ótica feminina, se desencadeiam a partir daí uma série de posturas.

Quando a mulher descobre que foi atraiçoada em sua relação amorosa pelo parceiro escolhido e tido como leal e fiel, passa por diversas fases de atitudes.

Num primeiro momento, a dor é aniquilante e ela sente que o chão desaparece debaixo de si e, então, naufraga no espaço, solta num vácuo asfixiante.

Chora e grita no desespero de constatar a morte de alguma coisa que não sabe exatamente o que é, mas que rasgou seu peito de lado a lado.

Procura respostas a qualquer preço, mesmo já conhecendo a maioria delas, na esperança de não ouvir o pior.

Coloca em si mesma a culpa do ocorrido por causa da sua omissão ou ignorância, por sua fraqueza ou incompetência. Não existem culpas no amor que acaba.

Emagrece se susto todos os quilos que queria perder e mais alguns.

Põe no rosto uma face maquiada para disfarçar as marcas profundas das lágrimas e das noites não dormidas e sai para enfrentar o dia, camuflando o olhar perdido e o gosto de fim de festa.

Pensa em cortar os cabelos, mudar de penteado, tomar um “banho de loja”, reformar-se como uma casa antiga que precisa de restauração.

Relembra constantemente que foi trocada, substituída no amor, que teve seu leito invadido e dividido, sua imagem retorcida e seu carinho estraçalhado a golpes de mentiras descaradas.

Deixa de acreditar que foi amada algum dia. E tenta com todas as forças despertar o afeto por si mesma. É preciso reerguer as paredes que desmoronaram, limpar o chão da alma, retirar os cacos de vidro. É urgente fazer o rescaldo depois do incêndio numa relação afetiva que acabou.

Em se tratando de relação amorosa, porém, o mais difícil é saber lidar com a verdade. Portanto, acredito que as limitações de cada um provocam a fraqueza de mentir, de ludibriar, de esconder. Tem-se a ilusão de que a “mentira é uma verdade que se esqueceu de acontecer” (como disse Quintana) e de que a traição nunca será descoberta.

Porém, aquele que atraiçoa é, na realidade, infiel a si mesmo. Pratica a pior das deslealdades que é atraiçoar ao amor-próprio.

E a personagem principal da trama televisiva fica sentada, meditando ausências, guardando retratos numa caixa, colocando a saudade nalgum canto escondido, enquanto espera a vida se desenrolar e trazer novas oportunidades.

O melhor da vida é poder recomeçar a cada dia, apesar dos pesares.