A Famosa Canja da Mamãe

Que filho não gosta da comidinha da mamãe? A comidinha da mamãe tem sabor de lembranças e cheiro de saudade, temperada com carinho e amor, mas não daqueles que você compra pronto no saquinho, é um tipo muito raro, cultivado por anos dentro de seu coração dando características únicas e inconfundíveis a esse tempero. Os melhores chefs de cozinha afirmam que o segredo para um grande prato está na escolha dos ingredientes, na seleção cuidadosa de cada um deles, mas sou obrigado a discordar, a minha mãe odeia filas, ir a um supermercado é sempre a última opção. A minha mãe é moderninha, faz todas as compras pela internet e não acredito que os donos de supermercado estejam contratando “chefs” para a seleção dos pedidos feitos pela internet.
Toda mãe tem aquele prato especial, famoso na família, desejado pelos amigos e admirado pelos visitantes. A canja da minha mãe é um destes, para definir em uma única palavra a canja da minha mãe é o “bicho”. Com aquela generosidade só encontrada nas mães! Meu pedido foi atendido e por email chegou a famosa receita e agora o destino dela é compartilhar com o mundo. E assim começo a receita.
O primeiro ingrediente que você vai precisar é uma mãe – todo mundo tem uma mãe. Se você não tem, não deve ser difícil encontrar, aposto que conhece alguém que te considera como um filho. Não tem como fugir desta frase, mas é verdade, no coração de uma mãe sempre cabe mais um. Agora vem a parte difícil, não pode ser qualquer mãe, tem que ser aquela que quando descobriu que estava grávida já sabia o seu nome, que te ensinou dentre tantas coisas que o amor é a coisa mais importante na vida, aquela que quando você ligou pra ela chorando porque a pessoa que você amava estava terminando com você, ela te disse “confia no seu taco filho”, sempre com a frase certa no momento certo, aquela que está sempre presente não importa se está a duas quadras ou a oito mil quilômetros de distância, aquela que sempre estará do seu lado e você sempre poderá contar.
Depois da mãe, agora corte um quilo de peito de frango em cubinhos e tempere com quatro dentes de alho, cem gramas de molho de tomate pomarola (meia caixinha), sal e pimenta do reino a gosto. Agora hora de lembrar outra coisa que as mães ensinam; há o tempo certo pra tudo, deixe o frango quieto, descansando por pelo menos trinta minutos pra pegar o sabor. Agora leve ao fogo uma panela grande, juntando meio tablete de margarina culinária (forno e fogão), quatro colheres de azeite e uma cebola picada. Em seguida adicione o frango já descansado e vá mexendo até sentir que ele está frito, então adicione uma xícara de arroz (não muito cheia viu!) e agora outro segredinho de mãe – quanto maior a sua disciplina melhor será o resultado final, mexa sempre, eu disse sempre, por cinco minutos até o arroz fritar, só então adicione um litro de água fervente, tampe e deixe cozinhar.
Canja sem cenoura e batata não é canja, logo vamos a elas. Como uma terapia, essa é a hora em que a dedicação e o não desperdício são as lições a serem aprendidas, descasque as batatas e raspe as cenouras, cortem tudo em cubos pequenos e reserve em um recipiente com água gelada, dica que vem com a experiência de vida, e que por muitas vezes parecem simples, mas causam um enorme efeito no resultado final, coisas de mãe!
Voltemos a nossa panela e lá colocaremos um pacote de caldo de galinha em pó, se não encontrar em pó, adicione então dois tabletes e vá mexendo de vez em quando, adicione mais água fervente até que o arroz esteja quase desaparecendo. É gente... tem coisas que só os olhos de uma mãe conseguem enxergar. Hora de pegar nossas geladas batatinhas e cenourinhas e colocar na panela. Baixe o fogo e deixe cozinhar por uns quinze minutos, mas como toda boa mãe, não deixe de dar uma olhadinha de vez em quando e pra não perder a viagem dê aquela mexidinha também. Por fim adicione dois maços de coentro, atenção, dois maços de coentro, isso é muito importante. Salsinha não é coentro viu! E quando uma mãe, fala em letras capitais que isso é importante, essa é a hora de pisar no freio e prestar atenção, isso pode fazer a diferença no final! Então dê a última mexidinha e desligue o fogo. Hummmmmm! Só pelo cheirinho já dá pra saber que está deliciosa! Agora é só provar e espalhar a receita! Pronto o segredo está revelado!
Ou não, como diria Caetano Veloso, ainda fico intrigado como ingredientes comuns, que já passaram pela minha mão e de tantos outros jamais resultou na mesma coisa? Talvez haja uma certa magia escondida, sei lá, talvez um pó de pirlimpimpim retirado das histórias contadas pra mim ao pé da cama antes de dormir é quem sabe seja o ingrediente principal, que faz da canja da minha mãe, a melhor canja do mundo!
E nesse dia de hoje, além de agradecer por ter me cedido essa receita mágica e me permitido compartilhar com todos, gostaria de incluir umas palavrinhas simples que não podem ficar fora desta receita. Mãe, eu te amo!
Ah! Colocar pimenta de cheiro cortada no meio sem as sementes dá um sabor especial! É gente, mãe sempre tem uma última dica pra temperar nossas vidas. Coisas de mãe!

Blog do Buraco por Ricardo Leão
Enviado por Blog do Buraco por Ricardo Leão em 09/05/2010
Reeditado em 09/05/2010
Código do texto: T2246841
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