Das coisas do amor

“São demais os perigos desta vida, pra quem tem paixão.”

Vinícius de Moraes

Por um segundo, um instante, uma centelha... basta um olhar, uma frase ingênua, de um pretenso don Juan vulgar – ah, como eu estava precisando de uma mulher para cuidar deste meu coração solitário. E aí, tudo começa. Reconhecem-se como velhos conhecidos sem nunca terem se falado. Uma conversa intima, inteira, como se vivessem juntos. E ao mesmo tempo, tudo tão novo, bonito, sincero, livre. Dois seres estranhos que se encontram e a magia acontece – o desejo incendiando a noite.

O coração batendo acelerado, o sangue quente, o encantamento, as mãos trêmulas, a descoberta. Não tem mais saída. Nasce o império da paixão.

Algum sentimento maior vai nascer daí, deste encontro casual. Casual? Passam a noite inteira se entregando, corpo e alma se entrelaçando.

Quem explica esta revolução, um terremoto que acontece em nossos corações. Ontem nem se conheciam e hoje não sabem mais viver sem o outro.

O amor, esta coisa finda, finita derradeira. Que faz a gente perder o rumo, se encontrar. Se sentir um deus num dia e noutro um verme. Entregam-se como animais selvagens e depois se matam como bichos urbanos. Sem o ser amado a vida não tem mais sentido. E o que acontece com o coração da gente? Que sentimento é este que derruba tudo. Princípios, preconceitos, ideais, verdades, experiências. “Nunca mais eu caio nesta” e logo estamos nós, apaixonados, caindo na primeira esquina.

O que tem esta mulher, que as outras não têm? A gente se engana, diz que é tudo igual e, no entanto, choramos de alegria quando estamos perto e de tristeza quando estamos longe. A saudade lá, latejando. A raiva, o ódio, o ciúme tomam conta e depois tudo volta numa torrente de paixão. Nenhuma é tão bonita, tão fogosa, tão inteligente. O fogo do amor. A paixão queimando o peito. Não pensa em mais nada, chora, ri, sonha, delira. Salta sem pára-quedas e flutua eternamente por alguns instantes.

Chora feito menino que perdeu brinquedo, feito cachorrinho que caiu do caminhão de mudança e se sente o maior homem do mundo quando ela volta cheia de desejo ou pedindo colo. A sua ausência toma conta de todos os cantos.

E você acaba fazendo poemas tolos, chorando nas ruas, de madrugada, cantando: "Poetas, seresteiros, namorados, correi É chegada a hora de escrever e cantar, talvez as derradeiras noites de luar".

dori carvalho
Enviado por dori carvalho em 10/05/2010
Código do texto: T2247639
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