Apego não é amor

Hoje, irei me meter onde não devo. Vou falar de amor. Amor e apego. Das diferenças entre dois sentimentos tão próximos, vistos à distância, mas que, de perto, mostram-se antagônicos. Defenderei que amor e apego estão grudados, mas de costas um para o outro.

Cada vez mais, desconfio do sentimento que prende. O apego é egoísta. Não somos culpados pelo apego, pois nos educam para cultivá-lo sem sequer sabê-lo. Mas, quanto mais busco compreender o apego, não sobram dúvidas de que vale o sacrifício de evitá-lo.

Escreveu Fausto Wolff, jornalista e escritor dos bons: “Amor à vida significa que todos tenham uma vida digna. Apego à vida significa: a maioria tem de se sacrificar para que eu possa gozar a vida.” Em nossas relações cotidianas, não é diferente. O que ama pensa no outro. O que se apega pensa em si.

Em qualquer relação, não se sofre por amor, mas sim pelo apego. A doutrina budista toda gira em torno da necessidade do desapego para extinguir o sofrimento. Temos apego principalmente pela vida, que não aceitamos que possa ser finita, passageira. Então sofremos.

O desapego, embora louvável, é difícil de alcançar. A proximidade destes sentimentos em nossa cultura faz com que sejam pensados como sinônimos, por isso cedemos ao apego assim como ao amor. E confundimos desapego com desamor.

Oculta-se que o desapego é o melhor caminho para desenvolver nossa capacidade de amar. É sem o apego que aprendemos a sentir sem esperar retorno.

O amor não prende, só cuida. O apego prende e descuida. Desapegar-se ensina a amar.

Andrei Andrade
Enviado por Andrei Andrade em 10/05/2010
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