Vela de namorados ( Lembranças do quintal da minha avó!)

Sou de um tempo, não antigo assim, em que as coisas eram completamente diferentes.

As coisas ás quais me refiro são, as brincadeiras, estudos, músicas, educação e outras coisas mais. Muitas coisas mudaram. E como mudaram! Entre estas, que se modificaram, incluo o namoro! O namoro é uma das coisas que mais sofreu transformações do tempo em que fui criança até hoje. A primeira diferença gritante entre o que era e o que é hoje é idade de namorar. Nós namorávamos tardiamente. Namorávamos, geralmente, após os dezesseis anos de idade. Hoje os namoros são precoces! Crianças de doze anos já namoram! Travam o primeiro conhecimento através de sites de relacionamentos na web, marcam encontros no shopping e trocam beijos (de língua!) nos estacionamentos ou na saída da escola!

O nosso namoro começava com uma amiga dizendo a outra que gostávamos dela; depois de feita a apresentação entre os interessados a gente passava um bom tempo só pegando na mão e o primeiro beijo era um acontecimento a ser lembrado por muito tempo.

Assombrosamente os jovens de quatorze anos já “ficam “(relacionamentos breves com encontros sexuais!) uns com os outros. Muitas vezes esse “ficar” acontece dentro da casa, com o consentimento dos pais. Já li alguns artigos que creditam este tipo de comportamento permissivo á educação dos pais destes jovens. O artigo pondera que, muitos pais de hoje, foram hippies ou pelo menos em algum momento de suas vidas comungaram com este modo de ser e de pensar: “ Viva a liberdade (em todos os sentidos), não á opressão”!

Enquanto hippies, ou simpatizantes, essas pessoas participaram do movimento defendendo bandeiras, tais como “Paz e amor” “Não á guerra do Vietnã!”, “Sexo livre” !

Como consequência deste tipo de posicionamento em suas juventudes, os pais de hoje seriam mais permissivos e tolerantes com o comportamento sexual de seus filhos.

Não tenho nada contra a maneira como cada um cria e educa os seus filhos; se bem que ,muitas vezes, fico indignado ao ver pelas ruas, crianças grávidas (crianças mesmo!). Meninas, no papel de mães, cuidando de seus bebês, quando deveriam, pela idade que tem, estar brincando com suas bonecas. No meu tempo pelo menos era assim!

Nossos namoros de crianças eram namoricos! Pegar na mão, abraçar e mais nada!

Namorar era, na maioria das vezes, era sentar encostadinho um ao outro, conversando.

Se a mãe da garota visse até pensavam que eram somente amigos. As mães, muitas vezes ,sabia que era uma paquera. Fingia não perceber! Mas ás vinte e uma horas da noite, impreterivelmente, a filha entrava pra dentro. Menina não ficava com menino no portão após esse horário!

Os pais zelavam por suas filhas. Namoro, usando uma frase da garotada de hoje, “ pra rolar” até ás dez horas da noite, tinha de ser sério. E o namoro, se fosse pra ser sério, tinha de ser consentido. Pedir uma filha de família em namoro, não era pra qualquer um!

Pra arriscar este pedido já tinha que estar trabalhando. O estudo até não era tanto, mas o trabalho sim! Pai nenhum queria sua filha envolvida com vagabundo, entendido nesta categoria, todos aqueles que ainda não trabalhavam ou não gostavam de trabalhar! Se o pretendente fosse dc boa família e já tivesse um emprego, o consentimento era dado.

Mas isso acontecia, já era lá pelos dezesseis ou dezessete anos! Até os dezesseis anos a gente vivia pela rua, de calções, soltando pipas e brincando de bandeirinha ou rela-a-mão-tá-pego. As moças, na idade dos dezesseis anos, apesar de não estar namorando ainda, estava aprendendo os afazeres domésticos (cozinhar,lavar, passar roupa, limpar casa) e, algumas, bordando o seu enxoval! Enfim, o namoro! Entre namoro, noivado e casamento, um casal de namorados conviviam pelo menos uns três anos juntos.

Isso quando o casamento acontecia rápido! Conheci gente que namorou cinco anos antes de casar. Como o namoro podia ou não evoluir para o casamento, os pais se preocupavam com a virgindade de suas filhas. Uma garota iniciada sexualmente, dizia-se dela pelas costas : “Fulana se perdeu com sicrano”!

Devido ao valor que davam, nessa época, á virgindade, a dignissima corria sério risco de ficar pra titia. Os pais não queriam isso! Tirar a “honra” de uma dama e não se casar com ela, significava correr risco de morte. Pra evitar esse desastre, era comum os pais designarem uma “vela” pra acompanhar o namoro. Uma “vela” era uma criança pequena que seguia os namorados para relatar depois aos pais se alguma coisa acontecera de errado. Geralmente era escalado para esta missão um sobrinho, uma irmã ou mais novo, enfim alguém da família. Dada aquiesciência para o namoro, os pais sabiam que ao namorado devia ser permitido namorar: ir tomar um sorvete, ir á praça, ir nas quermesses da igreja, etc. A missão da “vela” consistia em ficar por perto. A presença da criança servia para conter o “entusiasmo” do casal de namorados. Caminhando ao lado, um pouco á frente, não importava! Tinha que estar próximo! Quando minha tia Lourdes namorava o Tio Ademar, meu avô me incumbia como “vela” de acompanhar os seus passeios. Lá ia eu!

Eu era criança ainda e ia feliz da vida. Meu tio já estava trabalhando na Noroeste do Brasil, minha tia trabalhava numa distribuidora de revistas. Eles já estavam juntando um dinheirinho, fazendo o “pé-de-meia” para o casamento. Como eles eram empregados, tinham seus salários, podiam me fazer vários mimos. Sorvetes, pipocas, refrigerantes, balas, gomas de mascar, pirulitos! Ah como eu adorava! Quando eles estavam conversando baixinho, despertava minha atenção. Eu voltava o rosto na direção deles e os dois riam da minha curiosidade. Eu também ria! Confesso que ria, mais era contagiado pelo riso deles, sem saber bem ao certo o porquê que estava rindo. Algumas vezes ficava incumbido de acompanhar o namoro no portão da casa da minha avó! No portão eu não recebia as minhas guloseimas, por isso eu preferia ser “ vela” de passeios. Por outro lado eu acabava escapando para brincar com as outras crianças na esquina. Em casa eu não era uma “vela” muito confiável. Porém qualquer tentativa de “amasso no portão” era abortada por uma tosse seca, vinda de dentro da casa, emitida por meu avô!

Quando estava frio ou chovia, eles namoravam no sofá! Quando o meu avô bocejava era um sinal de que já estava na hora do meu tio ir embora.

Por fim o namoro evoluiu para o noivado e o casamento! Eu hoje tenho quarenta e cinco anos idade e os dois devem ter, segundo meus cálculos, uns trinta e cinco anos de convivência!