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Tardi, Dotô.
__Boa tarde. Sente-se.
__Careci não. Ficu di pé, memo.
__Sente-se para eu poder examinar.
__O Dotô é quem manda.
__Mas fale-me. O que está acontecendo?
__Ai, Dotô! Mi dá umas dor di veiz in quandu.
__Que dor?
__Aqui, óia. Nu estromagu. Beeem lá nu fundinhu.
__Forte?
__As veiz. Trasveiz é anssim ó, di mansinhu.
__E o que você faz?
__Tem veiz que eu cantu. Trasveiz eu vô pra cunzinha fazê um bolu.
__Tem outra dor?
__Tenhu, sim, Dotô. Aqui, ó. Pertu dus óio.
__E essa é forte?
__Também é forte não. Quandu ela dá eu cunversu cas vizinhas I passa.
__Outra?
__Tenho sim senhô. Aqui. Anssim, nu meio das custela, pareci nu coração. Dá uns apertu aqui, ó.
__E você faz o que?
__Tem veiz qui eu choru. Trasveiz eu ficu anssim, muitu da queta pra vê se is passa.
__E passa?
__As veiz. Trasveiz eu vô pra pracinha. Lá eu sentu num bancu vê as criança brincá prá esperá passá.
__Você mora com alguém?
__Moru não, Dotô. Sô sunzinha nessi mundão di Deus.
__Não tem família?
__Aqui tenhu não. Minha famia é todinha du interiô du sertão, pertinhu de Urandi, lá quasi im Minas. I vim sunzinha pra Sum Paulu tentá a vida.
__E você faz o que?
__Óia, Dotô. Eu já fiz um cadinhu di tudu nessa vida. Já trabaiei numa firma di limpeza, já cuidei di criança. Já trabaiei numa casa di genti rica. Agora eu trabaio cuma mocinha qui mais viaja qui fica im casa. Ela avua num avião di dia I di noiti. Aí eu ficu sunzinha.
__Você mora com ela?
__Moru sim, Dotô. Ela dexa eu drumi num quartinhu lá nus fundu da casa.
__Sabe cozinhar?
__Oxa! Cunzinhu muitu du bem! Coisa mais simpres anssim i coisa mais di genti chiqui.
__Gosta de crianças?
__Ô, seu Dotô. É as criaturinha mais anjinha qui Deus botô nu mundu!
__Qual o seu Nome mesmo?
__Óia, Dotô. Eu num gostu muitu, mas a modi agrada a Santa, minha mainha botô Crara.
__Dona Clara. Eu sei o que a senhora tem.
__Comu anssim, is o Dotô nem incostô im mim?
__O que a senhora tem Dona Clara, chama-se solidão e é a causadora de toda essa tristeza.
__I issu mata, Dotô?
__Ás vezes, sim. Mas, no seu caso bastam amigos, alguns remédios e um pouco de carinho. Dona Clara. Vai parecer estranho e nem eu mesmo entendo porque estou fazendo isso, mas minha esposa está grávida e nosso segundo filho é para o mês que vem. Já temos uma menina. E até hoje é minha esposa que cuida de tudo. Porém, com o bebê pequeno precisamos de alguém que cuide da casa. Que tal ficar conosco?
__Oxa issu não! Óia, Dotô. Nunca fizeram issu pur mim não. Vixe! Vai sê coisa muitu da boa ficá cum oceis. I careci di morá lá, Dotô?
__Sim. Temos um quarto vago, no apartamento. Podemos tentar por uns meses.
O que acha?
__Dotô. É anssim como tê famia, né?
__Quase.
__Dotô. Eu num vô mais sê sunzinha. Vixe! Deus lhi pague, Dotô, a modi qui carinhu anssim, nem mainha mi dava.
__Vamos testar. Combinado?
__Cumbinadu. Dotô. Careci di eu fazê uma pregunta. Eu num vô mais senti essas dor?
__Vamos combinar uma coisa? O dia que sentir essa dor você me procura.
__
Prá modi du senhô mi inxaminá?
__Não. Prá modi nóis trocá dois dedinhu di prosa.



Não tenho a autoria do texto. Se alguém souber, por favor avise para que o mérito seja concedido. Recebi em um e-mail... vale a pena ler.... vale a pena, mesmo.

Beijos a todos.

 
Oswaldo Genofre
Enviado por Oswaldo Genofre em 12/05/2010
Reeditado em 12/05/2010
Código do texto: T2252569
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