A Pantera e o Mapa Cor de Rosa

A Pantera e o Mapa Cor De Rosa

Colocaram-me o desafio de rascunhar uma crónica abordando o tema “O Mapa Cor De Rosa”. Com franqueza assustei-me! Razões simples de tal temor: Por um lado não sou propriamente cronista, por outro, cor-de-rosa, para além do matiz, só me ocorreu a célebre “Pink Panter” que de tão divertida e hilariante em muito me alegrou várias tardes e serões, não só meus como também, estou disso convicto, de muitos dos que possam estar a dar-se ao incómodo de me lerem. O tema no entanto é sério, histórico e influenciou as movimentações das potências industriais e económicas, à época em efervescente rebuliço.

Salvo nas regiões costeiras, África, no segundo cartel do século XIX, mantinha-se ainda um continente inexplorado e desconhecido. As potências colonizadoras, face às suas crescentes necessidades de matérias-primas, aperceberam-se da necessidade de conhecerem a toponímia e os recursos das suas quase esquecidas e desprezadas possessões.

As expedições na África Austral, essencialmente empreendidas por exploradores portugueses e ingleses, para além de inventariar geografias, despertaram o interesse pelos imensos e diversos recursos primários que haviam abençoado grande parte dessas regiões.

Aguçados os apetites, tanto os ingleses, à época um império a disputar a primeira linha do desenvolvimento industrial e económico, como nós, pequeno magote de lusos atordoados pela perda da vida fácil proporcionada pelas riquezas que os galeões traziam do recém independente Brasil e ainda perdidos na indefinição de um rumo, que tanto a monarquia como o governo tardavam e eram incapazes de clarificar, tentamos manter a soberania sobre as vastas regiões do interior africano que se estendiam entre Angola e Moçambique: Um largo e rico corredor a ligar o Atlântico ao Índico.

Só que o corpulento e inchado John Bull não achou graça às pretensões lusas reivindicando para o pecúlio de Sua Majestade grande parte desses territórios, fazendo tábua rasa da aliança secular que ambos os reinos mantinham entre si. Aproveitando a falta de firmeza do rei e a fraqueza do governo exigiu para eles os baús recheados de libras de ouro e outras preciosidades ainda em bruto, agradecendo aos lusos o terem guardado intacto durante quase quatro séculos tão preciosas e fartas riquezas. Para que não restassem dúvidas sobre as pretensões inglesas, um mapa dos tesouros reivindicados, pintado de cor-de-rosa cínico, vinha a acompanhar um intransigente Ultimatum.

Como seria previsível a insatisfação da população portuguesa virou-se contra o poder e a monarquia e um ódio irremissível contra os ingleses só não teve consequências mais graves porque nessa altura os “bifes” ainda não tinham descoberto as qualidades das areias e dos mares do Algarve o que os livrou de serem comidos vivos pacientemente tostados ao sol cálido do Mediterrâneo…

Recapitulando dei-me conta que sei muito pouco sobre o Mapa Cor-De-Rosa e vai daí tentei documentar-me mais consistentemente. Mas o que me chamou à atenção não foram nem os mapas nem a divisão dos territórios em causa mas sim os cartoons que o Bordalo Pinheiro desenhou sobre o evento…

O que me leva a concluir que a simpática e incauta pantera, nas suas investigações de lupa em punho pelas savanas africanas, em vez dos restos do Ultimatum carcomido pelas traças, encontrou, em linhas bem vincadas no papel pardo, as caricaturas inconfundíveis ao estilo do característico Zé-Povinho.

Moisés Salgado

Murça - Portugal