Que tal rir-se?

Já fui assim: ofendia-me com afirmações absolutamente inocentes, fazia questão de não entender brincadeiras e não admitia que mexessem em coisa “séria”. E olhe que a lista de coisas “sérias” era imensa; interminável, acho. Em suma, era um chato de galochas.

Mas a vida não quer saber muito de nossas “convicções”, não, ela vai levando e leva de roldão. Num evento no Rio de Janeiro (lá já era permitido dizer coisas assim publicamente) o palestrante saiu com essa: “Somos um peido no Universo”. Cheinho de brios e crenças judaico-cristãs sobre a importância do homem, choquei-me. A reflexão veio depois: “E se o homem desaparecesse, o que aconteceria para o Mundo?” A resposta demorou anos, viagens, leituras e mais leituras e, principalmente, sofrimento, imenso sofrimento, mas me colocou no meu lugar e minhas convicções foram para o lugar que lhes competia: o lixo. Aprendi a rir, principalmente de mim mesmo.

Nunca faltou, na história, quem nos alertasse para a importância do riso e, principalmente, de não se levar a sério demais, de filósofos antigos a pensadores modernos e um montão de pessoas “importantes” que aprenderam a rir de sua “importância” e, por isso, foram mais felizes. Apesar disso, por que não aprendemos? A gênese da guerra está na falta desse entendimento: quem não entende uma brincadeira, quem acha que uma “ofensa” dita com sorriso nos lábios é ofensa de verdade, quem sempre cria significados inexistentes, além assinar um atestado de mediocridade, está se armando. Poderia amar-se. A diferença é apenas um “r”.

Um projeto internacional chamado Censo da Vida Marinha faz descobertas fantásticas sobre o mar. Uma delas: preliminarmente estima que existem 20 milhões de tipos de micróbios no oceano, mas o número pode chegar a trilhões. E daí? Daí que eles significam 90% da massa dos oceanos, o equivalente a 240 bilhões de elefantes. Algo como 3.300 vezes a massa de toda humanidade. E isso apenas de tipos de seres invisíveis a olho nu e que habitam os oceanos. Só para consolar: eles também respondem por 95% do oxigênio dos oceanos e 50% do existente na atmosfera. Mas importantes são nossas convicçõezinhas! Melhor rir e rir-se.