Poesias do seu Manoel

Li hoje mesmo a notícia da estreia nos cinemas do documentário Só Dez Por Cento é Mentira, biografia do poeta Manoel de Barros. Não sou profundo conhecedor de poesia - no máximo arrisco alguns sonetos de Augusto dos Anjos e umas quadrinhas do Quintana - mas sou fã, muito fã, dos poemas do Manoel.

Fã do Manoel, não só pretendo assistir ao documentário tão logo sobre um tempinho, como, antes disso, quero brindar a todos com um pouco da poesia do mato-grossense.

Para começar, é dele a frase que há pelo menos um ano aparece na minha descrição pessoal no Orkut: “O olho vê, a memória revê e a imaginação transvê”. Não lembro de ter lido nada mais bonito do que isso em tão poucas palavras. Aliás, Manoel de Barros é ótimo frasista. Seria um “tuiteiro” e tanto (há no Twitter apenas um fake em homenagem a ele).

Nos poemas deste simpático senhor de 93 anos, há sempre um desconcertante jogo de palavras, que criam imagens tão belas quanto oníricas. Lembra às vezes os neologismos do Guimarães Rosa. Manoel escreve: "Hoje nao saio de mim, nem pra pescar..." e isso pode ser mais rico do que todo um romance. Ou “"Todas as coisas cujos valores podem ser disputados no cuspe à distância servem para poesia”. Não são criações de um poeta qualquer.

Dito tudo isso sobre o Manoel, agora que tal isso?

A poesia está guardada nas palavras -- é tudo que

eu sei.

Meu fado é o de não saber quase tudo.

Sobre o nada eu tenho profundidades.

Não tenho conexões com a realidade.

Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro.

Para mim poderoso é aquele que descobre as

insignificâncias (do mundo e as nossas).

Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.

Fiquei emocionado e chorei.

Sou fraco para elogios.

É Manoel de Barros.

Andrei Andrade
Enviado por Andrei Andrade em 19/05/2010
Código do texto: T2266293