Bem-te-vis no Outono

Bem – te- vis no Outono

Evane A. Barros Barbuto

Os bem-te-vis do meu quintal têm se multiplicado, robustos e belos. Voando por ali com os outros pássaros que, também, já não são poucos, para minha alegria fazem a festa todos os dias. No início, constituía-se, apenas, um casal namorador curtindo intensamente todos os recantos do espaço, desde a água que encontram para se banharem até as árvores verdinhas onde podem se deleitar, debatendo-se numa intensa festa. Apoderaram-se de vez da velha mangueira, ali vivendo e fazendo seus ninhos acompanhados hoje de filhos e amigos, provavelmente.

Com o início do outono estão variando seu canto de maneira mais forte e especial, fazendo diferente a entonação, como que saudassem a nova estação com arte renovada. Numa sinfonia cheia de alegria, nova e esfuziante, mostram que percebem a mudança do tempo que se inicia. Na verdade, as manhãs realmente mudam em cada virada de estação e os pássaros entendem muito bem as sutilezas da natureza e agradecem felizes.

Assim, cedo têm começado um ensaio diverso, menos repetitivo e monótono como até a pouco faziam. Não deixam nunca de dizer, “bem-te-vi,” como se vissem tudo realmente mas, na euforia desses dias de outono, podemos perceber uma arte inusitada de cantar como se suas criações pendessem para o impressionismo ou, até mesmo, se tornassem meio abstratas, talvez. Modulam o seu eterno refrão , mas com uma iniciação de floreios característica dos cantores quando querem sair do lugar comum de suas interpretações . É quase quando dizemos – esse cantor está floreando ao cantar. Em seguida, vem o característico bem-te-vi glorioso alegrando a madrugada.

Paro, escuto e sorvo atentamente o prazer daquela beleza inocente, “cantoria de pássaros no meu quintal” e agradeço a fidelidade da natureza, pensando no valor das pequenas, verdadeiras e belas coisas que a vida nos oferece. Ah, se soubéssemos sempre reconhecer e valorizar nossas pequenas coisas, aquelas que estão ao nosso alcance e das quais chegamos a desdenhar, cansados e fartos! Se, na madrugada, nossos olhos se abrem tristes e o coração se mostra temeroso das tribulações, imediatamente, aquele burburinho de aves alegres e soltas nos ensina a força do otimismo e da esperança para o enfrentamento do novo dia . É a própria vida que se manifesta cheia de pureza e significado. Ali, certamente, podemos crer que se instala a própria expressão da Verdade.

“A verdade é filha do tempo”, é essência da vida manifestada em seu estado mais simples e puro. Será ousadia minha conjugar gorjeio de pássaros com verdade da vida? Não sei. Só sei que nessa fala tento expressar verdade e beleza como amiga inconteste que sou do puro e do belo.

Como poderei da verdade desdenhar? Quando? Nunca!

Evane
Enviado por Evane em 20/05/2010
Código do texto: T2269504
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