UM EXAME MEMORÁVEL

A nossa turma iniciou o curso Científico em 1954. Um ano marcado por dois acontecimentos: o suicídio do presidente Getúlio Vargas e a morte trágica do colega Horácio Antônio da Fonseca Lucas.

Deixamos para trás o Ginásio e tivemos uma grande conquista: no Científico podíamos fumar nos locais permitidos.

Nos três anos do curso, a Física era o bicho-papão. Não havia moleza.

Não havia professor de Física bonzinho, com exceção do coronel Veloso. Apenas o coronel Veloso...

Assim, entre trancos e barrancos, chegamos ao mês de dezembro de dias ensolarados. E ao temido exame oral de Física.

A banca examinadora fez a chamada e quem precisasse de menos de 4 estava dispensado do exame, alívio para mais da metade da turma. Chegou a vez do Jorge (conhecido entre nós como Jorge Pintor-- autor de quadros belíssimos) e o coronel Bastos lhe perguntou de quanto precisava:

-- De 9,5.

-- Nove e meio?

-- Sim senhor, mas quero fazer o exame.

-- Muito bem, mas você ficará para o final.

E assim foi feito. O coronel Bastos ordenou que ficassem na sala 5 alunos para assistirem o exame e mandou o Jorge sortear o ponto. A banca foi para o fundo da sala e o coronel Bastos falou para o Jorge:

-- Apague o quadro! Escreva a equação do choque inelástico e faça a interpretação da mesma.

O Jorge Pintor começou a deduzir a equação; quando enchia o quadro pedia licença e apagava a metade, até que chegou ao final. No meio da dedução, onde era mais botou menos e nenhum professor o interrompeu. Ao final percebeu o engano, fez a correção e a interpretou de maneira brilhante.

Silêncio na sala.

-- Em que livro você estudou?

-- No Sears, coronel.

-- Mas o Sears é o que é adotado no primeiro ano da AMAN.

-- Mas estudei por ele, é mais completo.

-- Estamos satisfeitos. Dez. Parabéns!

Eu não estava entre aqueles cinco que permaneceram na sala, mas eles nos disseram lá fora que foi um exame memorável.

Aconteceu no Colégio Militar do Rio de Janeiro.