...OS PRIMEIROS PINGOS DA CHUVA...

Eu espero que consiga me sentir melhor agora que ando deixando tanta coisa morrer em meu universo. Eu espero que consiga limpar toda a sujeira escrevendo, é que eu preciso de uma mudança rápida, o frio que não vai embora me incomoda e eu quero o brilho do sol queimando a pele outra vez. Eu gostaria de ser como muitos dos meus amigos e caber dentro de uma felicidade qualquer, é que de repente me parece errado perseguir o sonho que a cada dia parece mais impossível. Eu lembro que há pouco tempo atrás não me importava com as nuvens pesadas que surgiam distantes, hoje torço para que o vento não as aproxime. Eu não consigo descobrir onde foi que eu caí e perdi as coisas que eram valiosas, sei apenas que está em algum lugar entre os risos e as lágrimas que vinham igualmente fáceis numa época estranha da minha vida. Descobri que com o tempo, o brilho natural de tudo que é importante vai perdendo a força até se transformar no que chamam de 'boas lembranças'. Eu já tive tudo que quis e foi do jeito que eu pensava. Os dias estranhos se foram e eu os quero de volta, tão inconstantes quanto eram, mas quem os roubou não vai devolver. Eu sei que hoje a noite, quando o vento gelado estiver cortando a face vulnerável, as estrelas estarão mais bonitas que nunca, e mesmo que meus olhos estejam apagados é dessa luz alheia que eu preciso pra me lembrar da energia que já não existe, e aí eu vou poder perguntar para vocês: Como é que está a minha tempestade agora?

(2000)

chuvasong@hotmail.com