MANACÁS

MANACÁS

Maria Teoro Ângelo

Depois da varanda havia o jardim. Era na casa de minha avó e por entre aqueles caminhos de tijolos brancos e aqueles canteiros tão bem cuidados eu vivi toda a minha infância. É por isso que me recordo com tanto carinho daquele quintal mágico, daquelas mãos que transformaram a terra nua e a casa modesta num lugar de sonho.

Eram tantas flores, flores antigas: esporinhas, bocas-de-leão, sempre-vivas, chuvas-de- -prata, miosótis, dálias, cravinas, margaridas e muito mais. Tantas rosas, que era impossível contá-las. Serpenteando o muro, o pé de brinco-de-princesa, a flor mais perfeita que existe e de onde eu tirava exemplares para as aulas de ciências.

Na parede da varanda, as begônias dependuradas em cada centímetro daquela parede; no corredor ao lado dos quartos, todo tipo de samambaias e por todo lado tufos de violetas, beijinhos e outras plantas que ficaram em minha memória não como um pano de fundo no desenrolar de minha incipiente vida, mas como algo que interferia na minha formação.

Ninguém tocava nas plantas. Elas serviam aos pássaros, ao universo dos insetos, serviam para a alegria, para a contemplação. Quando morria alguém, a criançada vinha buscar flores para o defunto. Minha avó colhia e entregava uma braçada delas.

Mas o símbolo do jardim eram os manacás, muitos pés, imponentes e cheirosos com suas flores branco-roxo-azuladas. Mantinham-se floridos permanentemente e eu amava aqueles manacás e sabia, já naquele tempo, que além das flores, eles possuíam algum tipo de sutileza que me tocava o coração.

Minha avó morreu. A casa foi vendida. As plantas miúdas, que precisavam de cuidados constantes, também morreram. O tempo passou.

Hoje passei por lá e me emocionei ao ver os mesmos manacás. Estão lindos, cobertos de flores. Haviam sobrevivido; tinham vencido o desprezo, o descaso, a privação. Renasciam a cada florada e nunca desanimaram de florir e perfumar.

Eu também já plantei meus pés de manacá. Além de estarem se multiplicando através das sementes que brotam aleatoriamente, eles são generosos nas floradas. Ficam tão vistosos, que servem de cenário para fotos de toda a família.

Quando eu me for, quero que fiquem como a lembrança alegre e positiva, delicada e otimista que gostaria que tivessem de mim.

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