Seleção Brasileira - Um jeito volante de ser

A seleção brasileira de futebol

Os guerreiros soldados de camisa amarela e chuteiras pretas.

Muitos me dirão que não passo de um pessimista, intransigente ou, melhor, que não sei ser coerente como o técnico Dunga. Santa coerência! O fato é que, teoricamente, fazendo uma análise prévia e geral, a escalação da seleção brasileira de futebol não tem condições técnicas para ser campeã mundial. Possui, o Brasil, condições físicas, emocionais, de força e raça, para, quem sabe, dar aquela “chegadinha”.

O primeiro grande equívoco da escalação começa no setor defensivo. A não convocação do goleiro Vítor, do Grêmio, exalta o quão “não-coerente” é a comissão técnica, contrapondo seu auto julgamento moral. Vítor é, já por dois anos, o melhor goleiro do Brasil. Defendeu a seleção nas eliminatórias da Copa do Mundo, é o atual campeão estadual pelo clube, capitão e referência dentro e fora do campo, exaltado pela maior – e exigente - torcida da região sul. Respeitado por todos. Pois bem, o próprio ficou fora da lista. Convocou-se então Doni, reserva no clube onde atua, com uma desculpa pífia e até agora não bem assimilada.

O goleiro titular é uma unanimidade. Júlio Cezar é o melhor goleiro do mundo em atividade. Os zagueiros, que lá estão para “zaguear”, se configuram como referência técnica de qualidade. Altos, fortes, bom cabeceio e boa saída de bola.

A lateral esquerda está indefinida. Não se tem nenhum dono da camisa meia dúzia, que já teve como protagonista Júnior e Roberto Carlos. Na lateral direita atuará Maicon, jogador da Inter de Milão, boa técnica, une força física, velocidade, bons cruzamentos, chute a gol forte e potente. Mas não sabe marcar, ou melhor, marca mal. Maicon atuará, na seleção brasileira, diferente de como atua na Inter. Lá, na Europa, ele joga como ala, um ponta de lança de antigamente, um meio campista terceiro atacante. Na seleção, cabe lembrar, Maicon se configurará próximo aos defensores.

Dentre os vinte e três “guerreiros” - vale lembrar que estamos falando de futebol - Dunga convoca sete volantes. Dentre os titulares, dois deles com exclusiva função de marcação, truculentos e bons trombadores, porém lentos e com mínima qualidade com a bola nos pés, aliando pouca participação em jogadas de ataque. Kaká se candidata à craque. Craque que é e se mostrou durante anos de São Paulo, Milan e Seleção. Mas vem mal no Real Madri. Recebe vaias ostensivas de seus próprios torcedores. É o camisa dez. Kaká deveria ser oito. É forte, rápido e objetivo. Não é o jogador pensante, frio e calculista, à altura de Zidane, Zico ou Pelé, características primordiais de um bom armador. Recai-se sobre ele toda a responsabilidade.

Elano é o quarto meio campista. Ajudará a marcação e sairá bem pro jogo. É homem de confiança de Dunga.

Na frente, infernizando zagueiros, Robinho terá velocidade e toda habilidade dos deuses, com jogadas de linha de fundo e boa finalização. Luis Fabiano está lesionado. A 21 dias da Copa (data em que escrevo a coluna) receberá acompanhamento médico. É craque. Legítimo fazedor de gols.

Na reserva teremos Josué, Kleberson, Júlio Baptista, Ramires e outros. Todos prontos para entrar, nenhum em condições para decidir.

Fica claro que precisaríamos de mais qualidade, um toque refinado, uma certa malevolência, uma ginga brasileira, aliado sim, a força e raça. A seleção brasileira tem a cara de Dunga. Se fosse escalada seria um volante.

Deixo um adendo: a responsabilidade do fracasso de 2006 não foi do quadrado mágico. A responsabilidade foi da CBF e comissão técnica. Não é de Parreira, muito menos minha ou tua, que me lê. Não podemos barrar craques.

A Copa do Mundo é rápida, poucos jogos. Não há tempo para ajustes.

Deixo claro que serei um torcedor fervoroso pela seleção brasileira, digno de alto patriotismo, mas cá entre nós, se Dunga prefere Josué a Hernanes, Elano a Ganso, Doni à Vitor, Kleberson à Ronaldinho Gaúcho, eu também posso ter o direito de chiar. Ou não?