Viagens e delírios

Na solidão da vida barbiei-me a espera do fim. Deparei-me com a falta que faz um mártir, eu não quis morrer, de repente faltou a cruz ou foi corda não sei, acho que faltou mesmo foi coragem pra dizer adeus. Te busquei por uma vida inteira, por um tempo quase que infinito. Te esperei por noites compridas, demônios dos mais variados velaram meu sono em cansaço. Adormeci em colo que não era o teu, beijei bocas na ânsia de livrar-me de ti.

A vida não quis que eu sorrisse, simplesmente quis que eu testemunhasse a sua passagem. Que não retocasse as faces nuas da noite, que no meu plantão eu produzisse um boletim de ocorrência sem esmero, apenas frio, para que os anjos ficassem em alerta e não dormissem enquanto a noite estivesse em festa.

Que as mulheres e os pedintes não se esquecessem de deixar os agrados prometidos. Quero receber a minha parte na coleta da noite, quero ver a tua declaração de renda, quero ver com que lucidez me diz onde e por quanto tempo viajaste pelo tempo e porque os jardins foram regados dia sim, dia não, sendo que suas flores são como as almas dos homens santos que morrem no abandono do amor.

A luz da noite ainda vai demorar a chegar ao fim. Tudo isso que digo é real, e é de brilho intenso. Não que eu não queira um dia de brilho intenso, quero sim, é que o dia é para descansar, a luz maltrata os olhos dos que passam a noite em claro, a luz espera ser apagada em favor do infeliz que viajou pelos cantos e encantos do mundo e seus submundos.

Essas metáforas que ora criamos não passam de delírios que foram esculpidos nas almas dos infelizes sonhadores. Já fiz e refiz inúmeras vezes minhas malas para ir embora daqui. Não lembro quantas foram às vezes que tentei dar ponto final a um livro de sonhos, nele escrevi todas essas historias que intrigam minha’lma. Eu queria que a leitura fosse degustada no sentido do sonho, na verdade em deleite que pudesse te levar a um orgasmo. Mas isso é outro caso, talvez um ponto de vista só meu daí não ter ainda chegado ao fim.