DIA DO ESTATÍSTICO

Prof. Antônio de Oliveira

aoliveira@caed.inf.br

Meus estudos de Estatística limitaram-se às disciplinas Estatística aplicada à Educação e Medidas Educacionais. A gente pode, sim, discretear de muitos assuntos, mas não de qualquer assunto. Além disso, jamais serei cognominado O Cara. Ninguém há de espírito tão culto e versado em todos os segredos da pintura, da literatura, da música, da botânica, da estatística, de qualquer ciência, da matemática, da medicina, da política, do esporte, da religião. Portanto, hei de ter o máximo cuidado para, sem me meter a dar palpite sobre tudo, não ir além das sandálias.

Aliás, essa interessante história das sandálias, que tem valor emblemático de um episódio, traduzido no dito popular “Vê se te enxerga”, se universalizou em quatro palavras latinas: “Ne, sutor, ultra crepidam”. Sapateiro, não vás além do calçado. Segundo Plínio (História Natural, 35-36), esta teria sido a resposta do pintor Apeles a um sapateiro, que, depois de haver criticado, num dos quadros do pintor, uma sandália, julgou-se no direito de criticar todo o quadro.

Eh! vamos lá, o que me ficou de mais importante do estudo de Estatística foi a seguinte conclusão: trocar certezas por probabilidades. Educado em certezas e dogmas, a partir do estudo de Estatística passei a entender que as coisas devem ser entendidas, salvo exceções, em seu grau de maior ou menor probabilidade, inclusive condicionada. Assim, a probabilidade da realização de um evento aleatório pode depender da realização de outros. Cálculos complexos e sofisticados envolvem a vida e atuação profissional do estatístico. Para mim, hoje, radicalismo é que é atitude dos que se acham 100% investidos de certeza, sem necessidade de estatística. Aliás, a palavra certeza anda tão descaracterizada que não se basta a si mesma carecendo ser adjetivada, como quando se diz certeza absoluta. Palavra de significação plena, certeza é ou não é. Quanto à ética, nesse contexto, não acredito em ética majoritária, acredito em ética maior. Sobretudo naquela ética que se confirma independentemente das circunstâncias, do interesse e do exercício do poder. Ética maior não é a mesma coisa que ética majoritária, regida pela estatística do desejo.

Psicologicamente, toda propaganda é enganosa, pois mostra só um lado, para induzir ao consumo. Politicamente, sentenciou um ex-ministro, “o que é bom a gente mostra, o que é ruim a gente esconde”. E esconde da estatística. Comercialmente, vendem-se ilusões e sonhos engarrafados dentro de rótulos miúdos de contratos que ninguém lê. Na TV, astros e estrelas prometem milagres, num mundo cor-de-rosa embalado numa sutil malha de sofismas. Viva sem enxaquecas! Remédio para tudo. Mal-estar crônico? Corta essa, irmão! Você consegue tudo. Basta ir atrás: vestir aquela roupa chique, frequentar aquele restaurante ou aquele clube, adquirir aquele carrão, usar aquele crediário para aquelas novidades, comprar aquele apartamento dos seus sonhos... Corra! Últimas unidades à venda ou em estoque. Engodo.

Prefira-se a estatística sem manipulação. E viva o estatístico de bom senso!

fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 29/05/2010
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