Uma Serenata em Triunfo

Estávamos nos aproximando do nosso destino, o lugar é alto, a mil e duzentos metros acima do nível do mar. Triunfo nos esperava num lindo dia de sol com algumas nuvens no céu. Cercada por vales e pedras de cianito que enriquecem o solo, alimentando com uma vitamina a mais suas plantas, principalmente as fruteiras, abraçada por um clima seco e quente durante o dia, seguido de um clima seco e frio à noite, nos recebeu exibindo toda a sua beleza natural e a beleza esculpida pelas mãos dos homens, demonstrada através de sua arquitetura que tanto nos encantou, com detalhes do barroco, do rococó e outros estilos. É considerada um oásis, porque mesmo estando no meio do sertão pernambucano, Triunfo se ergueu ao redor de um grande e generoso açude, que prefiro chamar de "lago". Esta cidade nos recebeu com um carinho e aconchego que foi sentido nas flores dos jardins de suas casas centenárias, e no semblante tímido e bonito de seu povo.

Estávamos ansiosos para desfrutar de toda aquela linda paisagem, que desfilava diante de nossos olhos e nos convidava a vivenciá-la.

As acomodações eram perfeitas, a alimentação rica e regional, como qualquer nordestino tão bem aprecia.

O passeio pela cidade foi como uma viagem através do tempo, conhecendo a origem da cidade, seus fundadores, suas batalhas e conquistas. Tivemos a alegria de assistir a um espetáculo que reverenciou a cultura popular nordestina, no seu imponente Teatro Guarani; teatro este fundado no mesmo ano em que aconteceu a Semana de Arte Moderna de São Paulo há tantos anos, mas que continua na memória de todos nós. Lindo patrimônio.

A feira livre nos proporcionou o maravilhoso encontro com a vida pacata e feliz do povo dali. O passeio no teleférico foi uma atração a mais, que nos possibilitou ter uma visão ainda mais bonita daquela cidade tão encantadora. Seu casario secular nos fez imaginar quantas histórias de amor, ódio, alegria e tristeza estão encravadas naquelas paredes.

Foi um passeio emocionante, seguido no final da tarde, de um momento mágico nos jardins do hotel, onde aconteceu o chá literário, quando tivemos a oportunidade de receber, interagir e aplaudir um artista daquela região a declamar e representar versos do grande poeta Jessiê Quirino.

À noite, a culminância: fomos todos à igreja matriz de Triunfo, onde após a missa aconteceria uma linda serenata, que iniciaria na praça em frente à igreja e posteriormente, sairíamos acompanhando os seresteiros a cantar aquelas antigas e lindas canções pelas ruas, estas, cravejadas daqueles paralelepípedos encantados, lisos pela ação do tempo e pelo caminhar dos seus habitantes e visitantes embevecidos como nós, acompanhando com o corpo, a alma e a voz aqueles trovadores fascinados pelo encantamento daquele momento. Foi emocionante ver aquelas antigas janelas se abrirem sob a magia daquelas músicas. Pessoas a se acotovelarem em busca da melhor posição para saborear aquelas melodias que invadiam seus ouvidos e principalmente seus corações. O cortejo que acompanhava os seresteiros, era formado de uma pequena multidão emocionada, hipnotizada pela música e pelo brilho daquela lua a cantar, havia ainda aqueles que se emocionavam tanto, que podíamos ver seus sentimentos liberados e escorrendo pelos seus rostos, escancarando sua saudade, sua fragilidade, sem deixar de existir, no entanto, o brilho de alegria em seu olhar por mais uma vez estarem a se emocionar por tudo o que viveram um dia, não importando se há vinte, trinta ou quarenta anos atrás. Não queríamos que aquele momento findasse. Não queríamos voltar à realidade, não naquele momento, mas, como tudo que é muito bom sempre há uma urgência em findar, também foi assim naquela noite.

Nos despedimos da música, dos seresteiros, do luar, dos olhares fascinados das janelas, do calçamento brilhante e aconchegante, e voltamos para o hotel, deixando agora aquelas ruas com mais uma beleza, a beleza de uma rua deserta, que agora tinha mais aquela lembrança pra eternizar, aquele momento único que foi a serenata em uma linda noite de lua cheia em Triunfo.

Wanusa Pinto
Enviado por Wanusa Pinto em 31/05/2010
Reeditado em 14/08/2010
Código do texto: T2291594
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