Crônica de maio


O mês sempre começa com uma comemoração no mínimo incoerente – O dia do Trabalho se comemora não trabalhando. Nesse dia seria melhor se comemorássemos o dia do Trabalhador que teria realmente um dia para não trabalhar e sim festejar. Sim, festejar, principalmente o fato de se ter um trabalho para fazer o que nem sempre é coisa certa e garantida neste nosso país do futuro, eterno gigante adormecido.
 
 Maio é o mês de muitas coisas, mês das mães, mês de Maria, das Coroações nas Igrejas Católicas, mês das noivas e sei lá mais o que, principalmente se considerarmos que no Brasil tem dia para comemorar tudo. Por exemplo: no mesmo dia em que se comemora o dia do Trabalho se comemora também o dia da Literatura Brasileira. E temos o que comemorar? Olhando a lista dos livros mais vendidos de uma de nossas mais conceituadas revistas o que sinto é vontade de chorar – No quadro Ficções nenhum livro escrito em Língua Portuguesa! Os editores preferem editar porcarias estrangeiras a boas obras brasileiras.
 
O mês de maio para mim, porém tem outras conotações: em maio é o aniversário de minha irmã (no mesmo dia em que se comemora o Dia do Sol  e o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa - 03 de maio) e do meu pai e meu irmão que nasceram no mesmo dia, mas não no mesmo ano é claro, porque um é pai do outro e isso ainda a ciência não permitiu. Nesse dia, 21 se comemora também o dia de nossa maltratada Língua Nacional e foi o dia escolhido para a apresentação da Noite Cultural Conquista, com a Corporação Musical Euterpe Operária. É ainda o dia Nacional da Cachaça.  Um dia antes, Dia do Tribunal Superior Eleitoral, foi aniversário de morte do meu primeiro irmão. E nós realizamos pela primeira vez em Praça Pública a Mostra do Projeto Tim ArtEducAção.
 
No dia quatro, que também é o dia de São Gregório e dia Nacional da Luta contra a Hipertensão, eu fui a um jantar no Restaurante Gourmet que é muito bom e é aqui na minha rua, portanto não precisando dirigir eu me esqueci completamente que tenho pressão alta e comi e bebi como um bispo.
 
,Dia 29 foi o dia em que se comemorou os quinze anos de Giulia, uma festa linda para uma menina linda  Não podia ter esquecido de nesse dia cumprimentar também a minha irmã Vera porque é o Dia do Geografo, embora eu nem saiba com certeza se o fato de alguém ser um professor de Geografia faz dele um geógrafo. Porque eu sou professora de História e nunca fui uma historiadora. Também nunca rezei para Santa Hilda porque nem sabia que ela tinha existido, só descobri agora.
 
No dia do Exilado, oito de maio,  dia de São Vitor, fui ao casamento de Ivana e Vilmar. E se isso podemos colocar na conta das coisas boas da vida, coisas ruins também aconteceram. O estuprador de dentistas que aterrorizava Minas Gerais foi preso (o que foi bom), mas descobrimos que em tempos de antanho, ainda menino, trabalhou em nossa Fábrica de Pães. E que conhecemos toda a sua família, gente boa, normal, gente como a gente.
 
Também tive o prazer de rever duas amigas queridas, que até penso que são minhas amigas de infância embora não o sejam, pois as conheci já na juventude – todas as duas arrancaram as raízes que tinham por aqui e foram criar raízes em outros lugares: N e MN, vindas diretamente de Pouso Alegre e Divinópolis. Rever amigos é como aguar as raízes de uma planta após um longo período de seca – e isso foi, como dizem os mineiros: “Bão dimais!”  Como as folhas da árvore a gente se torna outra vez viçosa, parece que aprumamos o corpo e o espírito e ficamos maiores do que somos. N veio no dia da festa de casamento e com MN pude almoçar dois dias seguidos, sendo que um deles foi no dia Do Ceramista e outro no dia do Geográfo e além de vir, o que já é o presente me trouxe dois livros lindos, Limão Rosa de Flora Figueiredo e Sem açúcar com afeto, de Sônia Hirsh, para brindar a minha diabetes. (que eu me recuso a ter)
 
E ainda houve uma saída para comer pizzas na Piu Bella, que nem estava tão bela assim, porque éramos tantos e as pizzas chegavam de uma a uma e faltaram refrigerantes dietéticos e essas coisas quase me aborreceram, só não foram grandes pela grandeza de cada pessoa que lá estava comigo. E isso foi exatamente no dia Internacional da Biodiversidade, 22 de maio, também dia de Santa Rita de Cássia.
 
Também minhas irmãs estiveram aqui , a Neuza de Três Corações e a Márcia, de Recife e também a minha princesinha que em agosto vai embora para Cornell e está deixando o meu coração pequenininho simplesmente por saber que ela não está ali ao alcance das minhas rodas, embora nesses anos que passou na Unicamp eu tenha ido lá só uma vez, em sua graduação em Biologia ano passado. 
 
E até já estava me esquecendo mas dia sete fui a um Sarau na Livraria Crepaldi e foi ali que ouvi boa música em um agradável fim de tarde do dia em que a Igreja comemora Santa Flávia Domitila que pelo nome deve ter sido romana, talvez uma mártir, talvez não. Nesse dia também se comemora o dia do Silêncio e eu me lembrei dos tempos de internato em que fazíamos horas de silêncio para tirar almas do purgatório ou salvar os pagãozinhos da Africa.  E se alguém duvida pode checar com São Pedro, está tudo registrado lá em seu livro para ser consultado quando eu bater a porta do céu, querendo entrar: tirou tantas almas do purgatório, salvou outro tanto de morrer pagão e eles certamente lá estarão para me recepcionar. No dia dez participei de um fórum em inglês com o objetivo de salvar o Planeta (Green Planet) e nesse dia era o Dia do Campo, o que estava bem de acordo e até aproveitei para rezar para São Ubaldo. 
 
Ainda houveno dia 17 um fato raríssimo, fui convidada para assistir uma Missa, em que os pais de Rosa Nunes, cantora de primeira linha, comemoravam sessenta e nove anos casados. Fui até checar se era um dia especial e descobri que era dia de São Pascoal Baylou, de quem eu nunca ouvi falar. 
 
Maio, que hoje acaba, foi um mês vivido e muitas outras coisas eu ainda poderia contar, mas vou respeitar a paciência dos meus amigos leitores ou seria dos meus leitores amigos? Porque sem dúvida, se alguém leu direitinho, até o fim, merece todo meu respeito porque eu de modo algum vou ter paciência para ler de novo essa salada de dias e comemorações e coisas que fiz e não fiz.