QUANDO A CHUVA PASSAR

QUANDO A CHUVA PASSAR

A folha seca caiu e deslizou suavemente para o ladrilho decorado e sobre ela uma única gota do orvalho da madrugada se alojou. O beija-flor que sugava o néctar da flor amarela deu um show de coreografias com a sua graça e beleza e se despediu... meu olhar firme, parado naquela primeira cena da manhã de maio não se apercebeu que uma corrente forte e fria de vento circulou o pequeno jardim e invadiu o avarandado levantando folhas, pó e engordando as cortinas de tom paste suave como as cores da primavera extraída de uma tela surrealista do século XVI.

Durante muitos anos eu adiara aquele encontro e quantas vezes eu me questionei a respeito da necessidade que eu tinha e das duvidas que o meu coração ansioso emita quando acelerava ao simples aceno de possibilidade ou ocorrência de nos...

Quanto mistério, tamanha vontade, uma carência enorme que se aliava a um vulcão extinto que nesse exato momento revivia e a sua grande fornalha revitalizada ameaçava acender a chama e deslizar sobre o ventre da montanha as larvas de prazer que correria acima da relva da tua púbis o delírio do prazer contido e ressentido de centenas de anos desde o febril orgasmo que tivemos naquele lupanar decadente entre bosques de ciprestes nos arredores de Paris ... Tanto tempo se passou a ilusão de te ter novamente nos braços ao som de Beethoven ou num cenário bucólico de uma opera de Oliver .

As nuvens que passam depressa ou as brumas que amedrontam os experientes navegantes em dias de tormenta, em que o sol esfriou ou a noite que chegou sem a lua e as estrelas , qual a esperança inspira de haver em meus delírios de prazer, de minhas coxas entre as tuas num vai e vem de constante frenesi ou de teus seios quentes e volumosos que arfam entre os meus gemidos e assim somos como naus perdidas na imensidão dos oceanos em busca da salvação ou a minha boca que a tua procura para o selo da nova vida e do amor que volta intenso, alongado e louco, o amor centenário aquele que gememos através dos tempos e que nos sacia nos bordeis da vida de muitas formas mais do mesmo jeito e assim, entrelaçados que somos pelos braços da paixão, mergulhamos no vazio do sentimento puro e nos encontramos uma vez mais querida, eu, você e o nosso imortal amor, assim agora ou quando a chuva passar...

Airton Gondim Feitosa