Prudência de Raul de Leoni

Em 1973, Walter Benevides escreveu um livro sobre o cinqüentenário de Raul de Leoni, poeta nascido em Petrópolis em 30 de outubro de 1895, tendo morrido tuberculoso em 21 de novembro de 1926. Estranhei que Benevides, também médico, dentre vários poemas citados, tenha esquecido de transcrever Prudência uma das mais belas e lúcidas poesias de Leoni; analisou, inclusive uma poesia que demonstrava a quebra de harmonia entre o corpo e espírito do poeta, transcrevendo o soneto Pudor. Deixo o meu protesto, e transcrevo abaixo, os primeiros oito versos capitais de Prudência...Prudentemente, chamo em meu socorro Rodrigo Melo Franco de Andrade, que no prefácio de Luz Mediterrânea diz dos poemas: "Há uma poesia cerebral, cujo elemento emotivo decorre das reações provocadas na inteligência pelos contatos do mundo exterior”.- Pergunto se pode haver poesia mais cerebral, que a parcialmente transcrita, além da precisão rítmica e beleza dos versos...No quarto verso a beleza do emprego do pronome, e no quinto usa contenta-te com...Em vez de contenta-te em...A diferença poética é flagrante, pois, contentar-se com dá-nos a idéia do suficiente; se escrevesse em a imagem ficaria mais abstrata, dando-nos a idéia, de que se deveria ir ao fundo do conhecimento sobre a pessoa amada! São versos dos mais lindos da língua portuguesa, numa linguagem de um poeta simples. A literatura revela poucos verdadeiros grandes poetas, já falei em alguma ocasião; o poeta do Hamlet, o dos Lusíadas e aquele que era três em um...Não pretendo fazer graça com o Navio Negreiro, mas tenham a paciência...Eu me lembro do meu professor de filosofia, quando ri das teorias de Anaximandro...Não deve o incompetente rir de quem teve competência para criar uma teoria filosófica!

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Não aprofundes nunca, nem pesquises

O segredo das almas que procuras;

Elas trazem surpresas infelizes

A quem lhes desce às convulsões obscuras.

Contenta-te com amá-las, se as bendizes,

Se te parecem límpidas e puras,

Pois se, às vezes, nos frutos há doçuras,

Há sempre um gosto amargo nas raízes...

8 primeiros versos de Prudência de Raul de Leoni