A Torre que eu não vi e os mares que conheci. ( série Viajando por aqui e ali -26)
 
Passei tão mal quando saindo de Nice nos dirigimos para a Itália que se tivesse que tomar uma atitude naquele momento voltaria correndo para casa. Não sei bem qual foi a razão, provavelmente cansaço conjugado com a quantidade de voltas que o ônibus deu em nossa passagem por Mônaco. Quando chegamos a Pisa eu já estava completamente derreada e se não fosse a rapidez de nossa guia Madalena em me passar na hora exata saquinhos plásticos para que eu utilizasse em minhas reviravoltas estomacais teria sido impossível seguir viagem. José, o motorista espanhol, parou o ônibus junto a um posto de gasolina e os meus companheiros partiram em direção a cidade para conhecer a famosa Torre. Estava um dia extremamente feio e chuvoso e é claro, optei por ficar com José, após ter convencido meu irmão Dudu a ir com o resto da turma. Antes de saírem, porém, fui agraciada com o carinho de todos que só me deixaram depois que conseguiram achar um Plasil para que eu tomasse e para isso malas tiveram que ser abertas. Medicada, aos poucos fui melhorando e acabei adormecendo. Só acordei quando os primeiros retornaram, garantindo que eu não havia perdido nada – a Torre era decepcionante, fato posteriormente confirmado por todos. Mesmo assim senti muito ter perdido essa oportunidade: estar ali, a um passo dela e ser vencida pelo físico.  
 
 No entanto a decepção não me abalou porque situação contraria havia ocorrido com a viagem a Nice. Ao chegar à cidade Francesa da Costa Azul e ver aquele marzão azul o sentimento que tive foi semelhante à primeira vez que vi o mar - Foi em Guarapari e ele foi se anunciando aos poucos pelo cheiro penetrante que eu nunca havia sentido antes. A emoção de ver o mar pela primeira vez eu comparo aquela da descoberta verdadeira de que há um Criador, acima de todas as coisas, capaz de fazer maravilhas, a descoberta que vem de dentro, do nosso eu mais interior e que não precisa da confirmação de terceiros nem de provas.

Frequentei Guarapari por muitos anos, muitos verões e muitas férias de julho, quando a cidade se mostrava para mim em seu maior encanto. Chegamos a ter um apartamento na Praia do Morro e podíamos ir para lá com a família e/ou amigos. Foi ali que aprendi a amar e a temer o mar. E ao ver o mar de Nice, diferente de Guarapari em todos os seus aspectos, a emoção que senti foi a mesma. Como se eu estivesse penetrando completamente em um mundo oculto e proibido e desvendando a natureza da beleza. 
 
 
 
Outro mar que amo é o de Santos. Passei ali ótimas temporadas, em um pequeno apartamento junto ao Orquidário e sempre foram dias maravilhosos, incluindo uma enchente monumental que me fez andar pelas ruas com a água cobrindo os meus pés e me arrastando junto às grades dos prédios em busca de pão para o lanche. Férias de Verão, férias de inverno, Carnaval, Semana Santa, Réveillon. Há pouco tempo voltei a essa cidade que me encantava, mas o mar que vi foi outro: o do Cais do Porto onde peguei o navio para um pequeno cruzeiro litorâneo. Foi emocionante conhecer essa parte da cidade onde eu nunca havia ido. No litoral paulista, além de Santos, Guarujá e São Vicente só conheço Ubatuba. Nessa, quando fui, se confirmou o apelido que lhe deram: Ubachuva. E olha que eu estava acampando e posso comprovar. campar com chuva, na praia, não é coisa boa para se fazer.

O litoral carioca também é uma coisa de louco. Andei por ali algumas vezes, acampando na Barra da Tijuca, passando o Réveillon em Copacabana e dali esticando para algumas praias fluminenses como Parati, Angra dos Reis e Cabo Frio. O nome, Cidade Maravilhosa está completamente de acordo com a beleza e magia que transpira pela natureza. A emoção que senti quando fui ao Rio pela primeira fez foi inesquecível, daqueles momentos que considero transcendental. A visão de Copacana se aproximando enquanto o táxi corria célere nunca sairá de minhas cansadas retinas. 
 
Dizem que mineiro fica louco quando vê o mar. É a saudade da ausência. E eu, embora só me sinta protegida entre montanhas, quando alcanço o litoral vôo como um pássaro, livre e sem destino. Mas meu amor é pelo mar, não pela praia. Detesto areias, a menos que eu possa utilizá-la só para caminhar, nunca para ficar estendida feito um lagarto na pedra.

Já conheci muitas torres e também outros mares .Em alguns fui uma vez e não voltei e em outros repeti infinitamente o trajeto. É o caso de Porto Seguro, Arraial da Ajuda e Trancoso. Recife, Olinda e Porto de Galinhas.E outras cidades do nordeste, como Fortaleza, Natal, Maceió. Mas ainda falta muito para conhecer e a riqueza desses lugares é tão fantástica que exige um texto inteirinho só para eles.E as torres também.