CIDADE FEIA, mas é alheia!

Lêda Torre

São Luis do Maranhão. Única cidade do Brasil conquistada pelos franceses. Terra de muito bumba; mês de junho, Bumba-meu-boi pra lá e pra cá, tem cacuriá de dona Teté, terra de índias que transforma esse pedaço de chão, terrinha cheia de gente de todo jeito. Capital da Festa da Juçara, de belos carnavais, terra de babaçuais, de manguezais, de caranguejo, do arroz de cuxá, do camarão, dos grandes poetas, de belas misses, de turistas estrangeiros e brasileiros, terra de pescadores, terra da farinha de puba, de mulheres rendeiras, de quebradeiras de coco que chegam aqui num êxodo sem fim, terra do bolo de tapioca, terra dos saberes, das tantas faculdades, terra dos empresários que aqui aportam para uma nova opção de vida, terra de todo mundo, terra de ninguém.

São Luis do Mará, aqui tem Marron, tem Zeca Baleiro, tem Rua da Paz, tem Rua do Sol, Rua dos Afogados, Rua Grande, Rua do Giz, das Cajazeiras, de São Pantaleão, tem Maioba, Maiobinha, Cohab e Maiobão; tem Raposa, Pirâmide, tem Anjo da Guarda, tem uma Cidade Operária, uma cidade Olímpica, tem Cohatrac, Vila Kyola, São José de Ribamar, tem Matinha, tem Mata e tem Matões; tem Vila Funil, tem Parque Vitória, Rua do Alecrim, Angelim e Bequimão; tem Cohama, tem Vinhais, Cohafuma, Anil, e Vila Luizão, é tanto bairro, uns chiques, outros periferia, mas todos, e mais alguns fazem a cidade de São Luis do Maranhão.

São Luis do Maranhão, cheia de contrastes. Nossa capital é um grande paradoxo. Cresce a cada dia que passa. E nesse inchaço de gente, de shoppings que inauguram uma nova história do comércio, não está suportando em sua infra-estrutura, os vieses do progresso que chega tempestuosamente, numa revelia sem permissão do seu povo. Belas palmeiras circundam essa ilha de Gonçalves, do Arthur, do Coelho, do Aluísio, de Raimundo, do Ivar, do Sarney, de uma Maria que se tornou Firmina, de um Josué que não é martelo, mas é um elo, de um Jomar , de um Nascimento, e de tantos outros que como Ferreira Gullar, um dia se envergonhou de seus primeiros escritos.

Palmeiras da macaúba, do buriti, do coco babaçu, da juçareira, da bacaba, do jambo e do murici; terra de belas praias que compõem esse cenário de Brasil, num litoral a perder de vista, que tem Ponta D’areia, um Olho D’água, um Calhau, um Caolho, uma Araçagy, uma Panaquatira, e que vai dar em Barreirinhas, de um povo que canta regaee nigth, uma Atenas que não é grega, mas é apenas maranhense, crateras perfazem suas vias, avenidas e ruas, num descompasso com o título de Patrimônio da Humanidade, que de humanos nossos líderes não têm nada e nos decepcionam com sua desgovernança bestial, deixando nossa cidade feia, linda por natureza, porém enfeiada pelo homem, um trapo de imundície.

“SÂO LUIS, que te quero bela”, um slogan que no seu eco não ressoou direito aos ouvidos e olhos de seus habitantes. Como ser bela, se numa incontrolável falta de amor pela cidade, faz nossa gente ser indiferente à conservação de meio que não é ambiente digno de viver. É poluído, nossos pequenos rios que faziam a vida de alguns bairros como o Turu, o Santa Rosa, um tal de Pai Inácio, são lendas hoje; e nessa ciranda desenfreada que hoje invadidos pela indústria imobiliária, morreram sufocados pelo lixo, pelos esgotos a céu aberto. Como te querer bela, São Luis?

Tão linda e tão feia, uma cidade hospitaleira que recebe de braços abertos o forasteiro, acolhe seus filhos do interior, que numa incessante busca do saber e do crescimento profissional, vem muitas vezes arriscar sua própria vida, seus próprios objetivos, tantas vezes frustrados, a voltar pra sua terra mater. Essa é a São Luis que eu conheço. Cidade de bairros que abrigam o lixo e o luxo juntos, sem contar que a nossa linda Lagoa da Jansen, fétida como ela só, apesar de sua beleza, abriga uma serpente lendária, mas que não pica ninguém. Tá morta a bichinha!! Não faz nenhum mal, só a ela mesma.

Nossa cidade está gemendo sufocada pelos inúmeros carros que estão congestionando uma capital tão ilha, tão pequena, tão ela, de ilha virou continente, pelo poder suportar tanta incongruência do seu povo. Mas quem não quer ter seu veículo? Todo dia chegam às nossas concessionárias, mais de trinta carros ...pode ser belo um lugar desse? que daqui a logo mais teremos que andar a pé, será mais fácil.

Como conservar uma cidade bela, se até suas praias estão sendo invadidas pelos espigões de concreto, lugar de rico, outros de remediados, e até do pobre lascado, aqui tem lugar pra todo mundo. É preciso proteger nossa São Luis com seus Lençóis tão alvos, para que a serpente lendária se conseguir encontrar o rabo com a sua cabeça, a bela feia São Luis não seja atingida. Mesmo assim, eu te quero bela, São Luis de tantos ludovicences, que tanto europeu a quis!!mas não ficou....

São Luis, 02/06/2010

Lêda Torre
Enviado por Lêda Torre em 03/06/2010
Reeditado em 03/06/2015
Código do texto: T2296513
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