Crónica de nada

CRÓNICA DE NADA

Enfim encontrei hoje alguém que partilha a minha angústia. Trata-se do síndroma do papel em branco. Horrívelmente branco como a mortalha. Será quase a mal comparado com a sensação de um astronauta ao atingir o espaço vazio, sujeitamdo-se a uma vertigem abissal.

Só que o astonauta está preparado, treinado física psicológicamente para esse efeito e eu não tenho nenhuma preparação para enfrentar esta vertigem que me assoma ao suspender a caneta sobre o mundo em branco do papel. Talvez o cronista Alvim me salve ao declarar nada ter a por no papel e insistir na ideia. Ocorre-me asim a mesma ideia que não é ideia nenhuma e por tal não há plágio nem furto de direitos de autor. Se não há corpo de delito, não há crime, e se o corpo é uma ideia sem corpo sinto-me isento de escrúpulos, e até solidário com o Alvim neste deserto branco que me ofusca. Não tenho prazo nem trilho para este transe, só miragens me assaltam, e a sede neste deserto é miragem, névoa fugaz da brancura do papel. A folha não vai ficar em branco, se não fizer origami com ela em avião infantil a projectar em jacto de raiva,(Alvim) faço uma bola amassando-a bem e chutando a ideia projecto com a fúria de Ronaldo ou a arte de Messi.

(Arte de Messi, nãos se trata de nenhuma cultura primitiva descoberta por arqueólogos bizarros, mas é arte actual e não se cria com as mãos mas sim com os pés.) Adiante .

A este meu vazio papel corresponde no entanto uma estúpida vontade de o encher e daí nasce a minha lamentável posição entre a espada e a parede.

Que saída? Evocar as Musas? São mulheres, sabesse lá em que período estão! Pedir ao Pai dos Deuses interceção? É homem e ás vezes bruto. Assim talvez só uns Deuses intermédios a quem eu chamaria Adeuses me pudessem valer, mas não foram criados na hora Olímpica e os de hoje ainda não estão cnonizados.nem crucificados. Nada é garantido a um mortal. Então que fazer?

Recolher ao casulo da impotência, da incompetência, da falência?

Eu sei que o vazio é tão infinito, tão cheio, tão prenhe, tão fértil, que a vacuidade é apenas a nossa cegueira, porque Ele tem pontas por onde se pegue, mas só despontam em relampagos de inspiração e eu estou farto de inspirar, salvo seja, mas expiro toda a inspiração, quando devia verter parte num bafo de crónica no papel ou num bufo de palavras para o ar, que o vento leva, sem que algum jornal imprima.

O papel branco, para onde olho tolhido e bloqueado vai-se tornando mais e mais brilhante

até ser espelho quase perfeito da minha lívida parva e idiota mente, atrofiada.

Vou-me deitar.

Arbogue
Enviado por Arbogue em 03/06/2010
Código do texto: T2297670
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