O DIA DAS MÃES PASSOU

O Dia das Mães passou. Foi no mês passado. Mês de Maio. Segundo domingo de Maio.

Hoje é 4 de junho deste ano de 2010. E, de repente, me deparei com o pensamento no Dia das Mães, e minha mente entrou em turbilhão.

Mãe é um papel a ser desempenhado no teatro da existência de acordo com determinado script, ditado pelos costumes e pela lei, e até, talvez, pela herança do instinto.

Cá entre os seres humanos, esse script modelador da mãe não raras vezes é interpretado ao inverso.

Entre os bichos as mamães animais não matam os filhos.

Entre nós, elas matam, jogam na lata de lixo logo que nascem, abandonam os filhos ainda nenês, e não estão nem ai.

Nas famílias bem postas, ainda que pobres, mas bem postas, organizadas, comportadas, se há mais de um filho, um é sempre o predileto e os outros são os outros, e isso causa mágoas eternas.

Nas famílias bem postas, quase sempre um dos filhos é eleito para ser o bode expiatório, o culpado de tudo, a ovelha negra, e as mágoas são eternas.

Nas famílias mal postas, mães solteiras, mães com amantes, apaixonadas pelos amantes, mães separadas, divorciadas, uma, duas, três vezes, com a produção de um, dois, três padrastos, a vida dos filhos não é a vida dos filhos.

Vocês mulheres sabem do que eu estou falando.

Vocês mães sabem do que eu estou falando.

Você homens sabem do que eu estou falando.

Vocês todos que foram, e ainda são, filhos sabem do que eu estou falando.

Não sei falar com exatidão e nem com suficiência.

Delego a palavra ao poeta, ao poeta Rodolpho. Não gosto da poesia dele, a poesia dele machuca, fere profundamente. É impossível encontrar tristeza maior. Leiam.

VERSOS POUCOS PARA MINHA MÃE

Enquanto eu amarguei a minha insignificância

Tentando ser e nunca sendo

Absolutamente nada em todo o transcorrer da vida

Eu culpei você minha querida

E você se foi embora sem nenhuma despedida

Plantando em mim a semente do remorso

E a angústia da impossível ressurreição

E a dor da memória e da saudade.

As perguntas nunca acabam

E as respostas nunca aparecem

Só o que aparecem são as dúvidas

Incertezas aplainadas com algum talvez.

Resta a certeza inabalável e infinita

Alicerçada nas lembranças nítidas

Dos cuidados e carinhos que você me dispensou

Em horas, dias, meses, anos trespassados

De desespero, dilaceramento e dores violentas.

Restam os gritos grandes mudos silenciosos

Meus gritos de revolta por você não me querer por companhia.

A vida é uma escolha e no final você não me escolheu

Foi isso que eu achei e que ainda acho

Mas que agora não tem mais nenhuma relevância

Já que houve uma infância

Em que você me cuidou e por mim se desvelou.

E é tudo isso o quanto basta

Para em atos marcados no tempo

Revelar a mim o seu amor

Por ser a minha amada mãe.

RODOLPHO

MILIPA
Enviado por MILIPA em 04/06/2010
Código do texto: T2298717